sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Galáxia - Parte 2 - Final


Viu-se na caverna, na autoridade daquele mundo em que se trancafiou para se salvar das catástrofes. O astronauta olhava a Terra brilhar ainda com as chamas, em algumas partes que o mar cobria havia fumaça. Lá de longe o pequeno planeta azul com uma vista privilegiada da beirada da cratera lunar em que ele sentou-se.
A vista lembraria algo como o símbolo yin-yang feito de fogo e fumaça. Em seu diário, descrevia sua décima noite.

Fechava os olhos, lembrava-se do mundo como era. Não tinha saudades e nem se comovia com suas perdas, afinal sabia que as grandes perdas do mundo ocorreram antes do fim do mesmo. Estava ali, sozinho.
Em seu descanso, o astronauta admirava o fim da humanidade. Ouvia os gritos desesperados das pessoas que ainda queimavam. Cenário de horror para alguns que para ele seria simplesmente o limite em que o cosmos suportou.

Aos noventa dias de espera, reuniu suas coisas e regressou ao planeta, o chão estava limpo pela brisa, os mares recuaram após longas ressacas, o fogo que tomara grande parte do contexto histórico, cessou.

Ainda não tocava o solo por medo de radioatividade, levantou voo e partiu para um lugar mais seguro, sobrevoava as planícies, subia aos planaltos e aterrissou no pico de uma montanha, na cordilheira do Himalaia o Everest, que era o maior pico no mundo estava reduzido. Não sabia se a terra subiu ou se o pico afundou, a localização no GPS estava incerta e dali mesmo observou que tudo estava devastado.

Colocou seu primeiro pé para fora do foguete, admirou a paisagem cobrindo com uma das mãos a luz do Sol que ofuscava sua visão. Nunca tinha visto uma imagem tão bonita (nem do espaço), murmurou em seu regresso ao planeta que julgava impuro: “Deus está morto”.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Paralelo


Enquanto voltava ao banheiro para escovar os dentes, percebia que o espelho era o dono de grandes verdades. Observava que seu rosto já marcado pelo tempo, com linhas estranhas e profundas, seu cabelo caíra com o tempo e a pele não se esticava mais. O creme dental que utilizava para disfarçar seus dentes amarelos de cafeína e nicotina.

Olhou mais para frente, chegou mais perto pensando que seria puxado para dentro daquele universo paralelo que estava bem ali. Aquele olhar de embriaguês, órbitas afundadas na cavidade óptica, as olheiras provavelmente surgiriam após longos dias em que passou em claro, insólito.

Enquanto a escova passava por aquele conjunto de dentes, engasgava com a mesma em sua língua, era necessário, fazia parte da higiene. Enquanto ainda secava os pés por completo, guardava a escova e o creme dental em seus devidos lugares.

Fechando o armário contemplou na outra noite com sua face estampada no espelho úmido e embaçado.

Sorriu com seu olhar morto e mostrou seus dentes amarelados sem pudor, calças arriadas chão molhado de urina e uma lata de cerveja na pia, a embriagues desta vez não foi de sono.