quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tangente

Quando entrou por aquela porta, sabia que seria o fim dos tempos. No olho do furacão amanhecia em estrelas, entrelinhas de um caso proposital de fato imune ao mesmo instante/sentimento. Seu coração batia e apenas batia, aflita não conseguiu digerir as respostas, não sabia responder as propostas.

O amanhã chegara, terremotos atingiam o mundo e sua mente ainda não tinha por onde correr, as paredes de seu interior se rachavam, o chão tremia. Teimosa, mal sabia que eram suas pernas que tremulavam insípidas. Um gosto amargo na boca.

Aquele sentido insosso, frio na barriga, estômago travado.

Dissera adeus, com flores na mão e espinhos nos olhos. Não tinha mais por onde mais causar dor, talvez sofrer seria mesmo a saída, cicatrizes e hemorragias quebravam o limite de tempo que alguém pudesse suportar. 

O céu se fechava, via-se uma explosão cósmica ao lado dos prédios que a cercavam, enclausurando seu momento fúnebre.

O sol abrira um buraco negro e se desfez em chuva. A mesma molhava seu rosto pálido, seu cabelo multicolorido. Sentada na beira da calçada, molhando os pés na enxurrada sentiu um leve toque em seu ombro. Olhou cuidadosamente para trás se perguntando, quem mais poderia estar ali senão as gotas de água que desabavam do céu assim como seu adeus, que desabou juntamente aos olhares daquelas pessoas que apenas observavam sua partida.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Causa mortis

7:30 AM - Acordo pensativo, o que este mundo me oferece?

7:31 AM - Ainda na cama, estou atrasado para o trabalho mas permaneço aqui sem perspectivas.

7:35 AM - Estou sentado escrevendo alguma coisa, talvez um testamento mas, não acho que tenha muita coisa neste apartamento pequeno além de um quarto/sala, cozinha, banheiro e varanda.

8:00 AM - Resolvi não ir trabalhar hoje e nem dar satisfação do caso, minha ex-mulher ligou, dizendo que eu deveria buscar o Felipe na escola, sim eu tenho um filho, ele tem 15 anos e manda muito bem nas matérias, principalmente nas exatas.

8:20 AM - Já me perguntei antes o que este mundo me oferece?

8:25 AM - Vou dar uma caminhada no parque, talvez encontre alguma resposta em meio as musicas do MP3 ou então nas imagens que se formam quando os pássaros voam em bando ou até mesmo nas arvores que se estrebucham com o vento.

8:40 AM - Recebo uma ligação no caminho entre a porta do AP e o carro que fica no estacionamento subterrâneo, creio que estava entre os andares 6 e 5, descendo.

8:50 AM - Desligo o celular, minha face sem expressões. Era minha ex-mulher novamente apenas para dizer que minha vida está errada, mas quem se importa, ela é minha.

9:10 AM - Trânsito infernal nesta selva.

9:30 AM - Finalmente consigo me sentar no banco do parque, observo o lago, os pássaros e as arvores como havia dito. O tremular das bandeiras durante um ensaio para a parada militar que ocorreria dias após.

9:50 AM - Escutando uma musica que me faz lembrar das coisas que passei, lembro-me da vida que tinha antes e me vejo hoje num estado de euforia e alegria, nada de mais, apenas uma nostalgia lembrada pela musica que tocava naquele réveillon, lembrei da minha juventude ao som de Ivan Lins - Novo Tempo. “No novo tempo, apesar dos castigos. Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos, Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer.”

10:30 AM - Aquela natureza em meio a metrópole, admiro estes animais que vivem aqui, são fortes o suficiente para resistir ao contraste causado entre a porta de entrada e a porta de saída, sempre aberta para que a escolha seja feita. Arrisca-se na metrópole ou se salva preso aqui neste paraíso.

10:45 AM - Me proponho a caminhar, apenas alguns metros, o parque é grande, mudar de ares as vezes é bom como “passar uma tarde em Itapuã”,  ao som de Vinicius e Toquinho.

11:00 AM - Hora de pegar o garotão nas escola.

11:30 AM - Recebo aquele abraço apertado dele, que me contava as novidades e também falava sobre uma garota de sua sala, a Gabriele, que os dois conversavam muito e que era legal ter uma amiga como ela.

12:00 PM - Um telefonema do hospital, exigindo meu plantão, não disse acima mas sou médico, um acidente em larga escala na auto-estrada onde dois ônibus se chocaram frontalmente, alguns sobreviventes e muitas pessoas mortas. Não iria trabalhar esta manhã, pois seria minha folga.

12:15 PM - Deixando Felipe em sua casa e partindo para o local do acidente.

12:35 PM - No trajeto, escuto uma explosão que me fez apertar o acelerador, pista interditada, engarrafamento de 2 KM.

12:40 PM - Saio do carro e resolvo ir a pé.

13:00 PM - A fumaça tomava conta do KM 137 SUL da rodovia. Algumas vitimas no chão, queimados, alguns foram arremessados para fora no momento da colisão, relatos de uma jornalista, passageira de um dos ônibus, a mesma apenas fraturou um braço, estava em sã consciência, foi imobilizada por segurança, conseguia relatar com clareza os acontecimentos.

13:30 PM - O chão, manchado de vermelho, um dos ônibus ainda estava em chamas, haviam pessoas dentro dele, umas morreram no impacto, outras gritavam por ajuda de dentro daquele compensado de metal retorcido. Algumas pessoas tentando ajudar com o que podiam utilizando os extintores dos carros, continham parcialmente as chamas. Os bombeiros haviam sido acionados há 5 minutos.

13:40 PM - Entrando por entre as placas de metal observo um menino deitado entre os braços de uma jovem, a mesma estava inconsciente, respirava com dificuldades, ao retirar os entulhos de cima dela percebi que algo perfurou seu corpo, atravessando o pulmão direito. Chamei os paramédicos para retirá-la dali. O bebe, me viu e esticou sua mão. Aproximando-me, vi que não sofrera nenhum ferimento, pois a mãe havia salvado sua vida.

13:50 PM - Encaminhando o bebe para a ambulância, onde receberia o tratamento apropriado continuei as buscas por sobreviventes e ajudando quem precisava naquele cenário.

14:00 PM - Mais uma explosão dentro do ônibus em que eu estava, vi o fogo partir pra cima de mim, minha roupa incendiando, sentia minha pele se rasgar com o calor que havia dentro de meu jaleco. Olhei para fora esperando ajuda e o que vi foram faces aterrorizadas pelo ocorrido. Um desmaio me concedeu descanso.

16:30 PM - Escutava as pessoas ao meu redor, Felipe chorava dizendo que aquilo não podia acontecer. Os médicos ali diziam que 70% do meu corpo foi comprometido pelas chamas e que seria difícil sair dali sem sequelas. Os sons foram se calando até que não ouvi mais nada.

18:00 PM - Escutei um dos médicos dizer que não haveria chance. Me apavorei, porém os batimentos cardíacos estava cada vez mais espaçados. Até que cessaram.

18:10 PM - Os médicos ainda tentavam me reanimar, com desfibrilador, massagem cardíaca, injeções de adrenalina.

19:00 PM - Morte cerebral relatada.

20:00 PM - Ainda estou aqui. Agradeço ao desmaio, que retirou de mim o sofrimento. Mas sofri ao deixá-los, sofri ao saber que meu menino sentirá minha falta.

21:00 PM - Estou naquele parque novamente, mas não entre o meio fio. Agora estou do lado que eu queria estar. As arvores ainda estrebucham com o vento que também causa pequenas ondas na água do lago central, os pássaros não cantam, pois é noite.




segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Papo de Elevador - nº 2

Lembram-se do Silva?

Pois é, desta vez nosso herói estava só, no elevador ele e o ascensorista (que era figura fácil  e inerte dentro daquele meio de locomoção vertical, inerte no sentido de... é... não morto, mas, há entenderam... comum... essas coisas).

Silva estava havia 2 horas dentro daquele elevador limpando o teto, enquanto o ascensorista pra cima e pra baixo, os colaboradores apertavam o botão para que o elevador “aterrissasse” no andar requerido. E a cada vez que parava, as portas abriam davam de cara com uma placa de MANUTENÇÃO/PISO MOLHADO/SILVA TRABALHANDO (esta ultima foi o próprio Silva que confeccionou. Já levou pito da gerencia por isso, mas quem se importa?).

Silva dizia ao ascensorista que não permitisse a entrada de ninguém, o outro apenas balançava a cabeça sinalizando positivamente, mas quem se importava com o Silva ele era apenas o faz-tudo da empresa (geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava, tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passa o cafezinho todo santo dia. Há, ele também ganha pouco).

Difícil foi explicar ao Moreira o que significava aquele traseiro recepcionando os passageiros do elevador, justamente quando o Silva sentiu aquelas contrações matinais que o leite quente gera em alguns casos. Silva fez aquilo... Poluiu o ambiente, defecou no ar, jogou merda no ventilador e não foi somente pelo cheiro de funeral de gambá ou de enxofre estragado, a sonoridade que o cagão emitiu, era meio que um urro daqueles que os Leões soltam quando estão brigando pelo território. Seguido por um: - aaaaaaaaahhhhh. (Silva obteve orgasmos anais ao soltar aquele baita peido).

O Moreira, um granfino de marca maior, cheio de suas etiquetas e bons modos, largou ali sua crença, sua vida toda passou diante de seus olhos sentiu uma leve tontura (pra não dizer tortura). Seus pulmões não queriam aquele ar, muito menos aquela visão (o traseiro do Silva, dando boas vindas ao inferno).

O ascensorista não pronunciou uma só palavra, apenas quebrou o vidro onde dizia: - “Em caso de emergência quebre o vidro, desceremos o mais rápido possível” não adiantou muito, estavam todos morrendo por asfixia, somente um perfume francês ou ar puro (e ai de quem acendesse um fósforo, seria uma bomba atômica adicionada de rajadas frescas). Com o cap para trás como de costume, o nosso amigo ascensorista ao ver que não adiantara quebrar o vidro pegou seu prendedor de roupas de emergência desceu do elevador (o que não era de costume) e chamou os dedetizadores que vinham munidos de desodorantes e mascaras de oxigênio, um verdadeiro arsenal anti-pum.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Menininha


Era com lagrimas nos olhos que se desfazia de sua boneca, pequena garotinha não podia mais carregá-la para o mundo, a voz ingrata de seu pai dizendo cresça, a voz angelical de sua mãe que dizia como uma soprano, por favor, é só uma criança. No auge da idade pela qual não se podia mais andar descalça, não se podia mais colocar aquele vestidinho que não lhe servia, não podia mais dormir entre o papai e a mamãe.

O abandono era real, sacos de lixo, jornais velhos e caixas de papelão. O cenário visto por aquela criança ia além de um quarto aconchegante com uma cama imensa, brinquedos arrumados em ordem de preferência, ursinhos de pelúcia ordenados pelo tamanho ao qual iam dos menores (na frente) pros maiores (atrás, obviamente). Tomavam a cama toda, sem contar os edredons, mantas e lençóis.

Medo definia perfeitamente seu sentimento, jamais fora rejeitada a uma boa noite de sono, tudo bem que os “xixis” durante a noite foram se intensificando e o papai já estava cansado de acordar molhado nas madrugadas quando dormia sem fraldas, pois já não tinha tamanho para usá-las (e me refiro à menina).

Tudo bem que se mexia muito durante a noite, rolava para os dois lados e da ultima vez a mamãe foi pro chão. Não tinha noção de seu tamanho, mas ainda assim insistia em deitar-se entre os dois, não sabia como lidar com os fantasmas que surgiam em seu quarto. Não sabia ao certo como dormir sem o aconchego dos braços maternos.

No escuro da noite ela fora acompanhada para fora do berço esplêndido, mãos dadas com a mamãe. Deitaram-se naquele canto escuro, mas não adormeceu, manteve-se de olhos bem abertos observando o reflexo da Lua pelas frestas da janela. O céu da noite era tão escuro quanto aquele quarto, a ausência de luz causava alucinações. Os ursos estavam prontos para atacá-la, mostravam os dentes e rosnavam a fim de afugentar a mais nova sobrevivente que caia de pára-quedas no mundo imaginário do quarto de dormir.

Era manhã quando ela interrogou seu pai, um homem já cansado das dores que a vida lhe proporcionara, na frente de seu namorado (o namorado dela e não do pai, prestem atenção):

- Papai, por que não posso dormir com vocês, gosto tanto de ficar no meinho, aconchegada na mamãe, roubando as cobertas quando tenho frio, rolando na cama quando tenho calor, gritando quando tenho pesadelos, acordando bem cedinho e te acordando também pra ver o sol nascer junto comigo?

Seu Nelson, um homem de poucas palavras que coçava a barba enquanto pensava na resposta (assumo que havia um delay entre um pensamento e outro), até que ele em um tom maximo de sabedoria disse:

- Porque você já tem 19 anos!



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Interior

Sentiu na pele um arrepio, algo estava em sua frente, mas não podia ver. Arriscou uma piscadela para limpar os olhos, esfregou suas mãos nas pálpebras esperando recuperar a visão passada. Não seria possível viver naquele instante que aterrorizava e destruía sua mente.

Não seria possível dividir aquelas vidas. Ele observou o outro lado da janela e o que viu foram pássaros no telhado do vizinho saltitando e sobrevoando os arredores, enquanto escrevia algumas coisas, riscava outras e rabiscava no canto do caderno. Não fazia sentido estar ali naquele momento. Sentiu novamente aquele arrepio, se viu do avesso, seu coração batia de forma inconstante, seu olhar não mais observava a janela. A cena fechava como seus olhos. Seu corpo foi se acostumando àquela sensação, porém ao mesmo tempo foi sentindo uma fraqueza. Uma força que tomava conta de tudo. Um zunido surgiu nos ouvidos.

Num enlace, não sabia se vivia ou se estava morto. Surgiam figuras em sua frente, um delírio. A febre aumentava gradativamente, coração bombeava sangue com a rapidez que os pulsos se enchiam. Aquela agulha aumentava o transtorno, o beijo recebido em comunhão com a flor de lótus. O ser magnífico surgia entre as vastas planícies criando um cerco virtual. E na passagem a luz branca que ofuscava as vistas não pertencia ao paraíso.

Suor derretia por sua cabeça que derretia como uma vela, porém, o fogo não brilhava acima de seu encéfalo que já não mais pensava. Quadro negro, espaço sideral, as estrelas se escondiam dele por pura aversão. Os planetas então, não só sumiram como fizeram questão de gargalhar de sua expressão, apavorada. Com medo do escuro.

Em azul a cena se abria com mar, lhe era agradável a primeira instância, calmaria, calmaria, calmaria... Que após esta a onda gigante o levara de volta à ressaca, a seqüela. Abstinência falida, monstro derrotado aguardando o desfecho, sua sina. Enquanto isso na enfermaria, todos os doentes estavam cantando sucessos populares.

A rainha de copas num tom imperativo, rodeada por rosas cor de carmim, dizia:
- Cortem as cabeças!

O som do monitor cardíaco incomodava seus ouvidos, que agora recuperavam a consciência. Mas não abriu os olhos, preferiu não abrir. Por medo. Por coma.




terça-feira, 23 de agosto de 2011

Yin / Yang


Vitima de um delírio, a vertigem que se tornava real parecia com a imagem que sonhara, o verde do mato que crescia por entre as frestas de concreto nas calçadas, gritando nunca vou desistir, apenas serviam de molde para uma vida de luta por algo inatingível, parafraseava um poeta famoso enquanto aguardava a chegada do furacão.

Asas negras... Via-se ao longe em comunhão com um céu que não se sabia se a fumaça dos motores se juntava ao ser alado que rompia o firmamento ao mesmo tempo em que todos admiravam a beleza do astro rei, coberto pela poluição que cheirava a enxofre.

Aquela mente estranha, vaga, escura como o céu de brigadeiro que se via lá no horizonte. Não se obtinha mais beleza nas aves que buscavam nas pedras o alimento, não havia mais prazer em olhar pela janela do barraco lá de cima do morro, quantas vezes estivemos cara a cara com a pior metade e então desfazemos de todo o mal arriscando a vida num tom de bondade e moralismo.

Poeira subia aos céus, no momento em que se surgiu o beduíno por entre as dunas, os prédios contrastavam com aquele momento exógeno, exótico. Cores vivas turvavam em escala de cinza, lisergicamente poderia crer que aquela morbidez do Instituto Medico Legal seria passageira. O erotismo dos cadáveres bailando naquele instante. Em suas macas frias. O protestante que se dizia acima de tudo, agora não sabia dizer se estavam errados em vender os pedaços do messias que também dançava ao lado dos mortos, uns inteiros e outros completamente mutilados. Sem olhos nem olhares.

Descendo ladeira abaixo, o rio, mais abaixo, o Tinhoso entidade pela qual o auto-retrato se fazia anteriormente a própria criação, cores quentes em um tom obscuro às vistas e vestes pagãs. Ortodoxos se reuniam para discutir o futuro da nação enquanto os puritanos se viam no dever que apenas purificar.

Aterrorizante as faces de fato, que de fato observavam o efeito boreal que pairava sob suas cabeças, os carros monóxidos em prece às sementes que subjugavam o esforço alheio de inicio como quando já entorpecidos pela visão da selva, detalhes lhe eram inadmissíveis tornando o carbono algo dignamente encorajador. A ancora descia ao fundo do poço, arremessando mais uma vitima dos maus pensamentos. A mesma com a corda no pescoço, aguardando o juízo final.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Buteco

As moças no balcão aos berros pedindo mais uma gelada. Pediam não, ordenavam. O garçom mais que depressa abria com alegria uma, duas, três garrafas, as meninas estavam em pé de guerra quanto ao desempenho de seus times no campeonato nacional. Quando de repente uma delas sinalizou para fora do bar, ninguém queria saber o que era de inicio mas foi por curiosidade que uma delas olhou (não só olhou, como olhou de novo).

Entrava no bar o Robertinho, menino novo aparentava ter uns 23 anos, bem apessoado, com trajes mínimos, debruçando no bar com cara de medo (medo daquela mulherada que o secava de cabo a rabo, diga-se de passagem, assim como comentou a senhora da mesa 15, - Que rabo). Robertinho olhou com desprezo, desapego. Entrou meio sem saber o que fazer naquela situação embaraçosa, foi até o balcão onde continuava sendo o centro das atenções pediu um Refrigerante de limão (não citarei a marca) pagou e saiu. No caminho encontrou sua irmã na mesa 30 que o olhava com cara de espanto e ao mesmo tempo franzindo a testa e balançando a cabeça em forma de desaprovação.

- Onde pensa que vai nestes trajes (dizia Flávia, irmã de Robertinho)?
- Vim só até aqui comprar um refri pro almoço, a mãe pediu (Robertinho se justificava).
- Mas você está vestido que nem um putinho (Neste momento, Flávia se exaltou devido ao alto consumo de bebidas alcoólicas).
- Para de falar assim comigo, você está bêbada (O bar silenciou, a conversa baixou e todos olhavam para aquela cena).
- O que você disse (Flávia agarrando Robertinho pelo braço)?
- Você está me machucando, para de fazer isso me deixa ir.
- Se eu ver você nestes trajes de novo passando por aqui, vai se ver comigo seu putinho (Flávia em tom de ameaça). E ai de quem assoviar mais uma vez, olha o respeito com o meu irmãozinho, bando de canalhas.

Robertinho saindo do bar às pressas, levava o que restara de seu orgulho e aquele refrigerante sabor limão. Ouviam-se assovios de aprovação ao modelito shortinho/blusinha (de ficar em casa).

Lá fora ainda havia rastros daquele perfume arrebatador. Aquelas meninas uivavam ao sabor da cevada e amendoim, nas mesas mais requintadas, porções de batatas e salgadinhos.  Mas ninguém escapou da visão do paraíso que Robertinho causou, “descausou”, causou novamente e ainda causa. O circo voador passava pela rua com sua trupe de malabaristas, animais adestrados e toda aquela algazarra, mas ninguém viu.

Robertinho sorriu (mais tarde) da situação de ciúmes e também das cantadas recebidas, é claro que fez de propósito para causar aquele alvoroço no bar, fez mesmo, sabia que tinha um corpão. Até se perfumou e fez as unhas, malandrinho.



Papo de Elevador


O ascensorista perguntava o andar. Aquela musiquinha característica tocava na caixinha já antiga.
Ninguém respondeu e assim ele teclou o ultimo, quando subiram todos ao terraço. Abriam-se as portas e o que viam era uma festa com bebidas, dançarinas e o Silva (o faz-tudo da empresa, geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava, tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passa o cafezinho todo santo dia. Há, ele também ganha pouco).

O gerente de Recursos Humanos dizia:
- Isso pode ser um fator influente no psicológico, é um caso a se estudar, mas depois da festa (saindo do elevador e abraçando uma das dançarinas).

O supervisor de logística dizia:
- Isso é uma questão de transporte.

Todos os 10 dentro do elevador:
- Transporte?

O Supervisor de logística:
- Sim, alguém me transporte para essa MU-VU-CA (Caindo na gandaia)!

O ascensorista virando o cap para trás já iria largando seu banquinho, não fosse a dona Clementina, responsável pelo malote de toda a corporação que em voz autoritária berrou lá do fundo em meio as cartas e pacotes:
- Se você descer, quem desce essa birosca, tenho horário a cumprir, já pra baixo. SILVA! Vem junto, já. Preciso de ajuda com tudo isso.

O Silva coitado, era o faz-tudo como já dito, queria sepultar a velha antes de mais nada, ainda mais naquela hora que todas aquelas bundudas dançavam o “cancan”.
- Senhora Clementina, por favor, na hora do “cancan” não... (ajoelhado, pedindo Clemência à Clementina)
- Já disse, tenho horário e se quiser, eu danço pra você. Lindinho (Dona Clementina, uma senhora com seus 73 anos, para não dizer TODOS os seus 73).

 Silva não sabia se sepultava ou se suicidava. Justo na hora do “cancan”. Lastimável.


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Tão Distante - Parte 6 - O Passado


“Podia-se ouvir os gemidos de Yvel, sofrendo por perder seus sentidos, visão e audição. Agora ele era guiado por uma estranha força, simplesmente vagava pelo escuro, uma alma que se tornava sombria com o passar do tempo.”

Eu estava cego e surdo, não havia meios de voltar atrás, Ashkaril completamente ferido e sem expectativas. Apenas caminhava ao meu lado, era estranho, mas ainda assim eu tinha plena certeza de que estava no caminho certo, agora, mais do que nunca. Precisava chegar logo, mas naquele estado em que estava, iria desapontá-los. Foi quando resolvi.

- Ashkaril é seu nome não é?
- Sim Yvel. Meu nome.
- Há alguma chance de me recuperar?
- Claro que há. Não é a primeira vez que estamos nesta situação. Toda guerra é assim.
- Como assim toda guerra?
- Os Cybers, possuem um dispositivo em suas feras, que debilitam temporariamente qualquer uma que esteja perto demais, no momento em que explodem.
- Mas eu sou um ser humano, estou cego e surdo.
- Sim, mas você não é bem um ser humano.
- Como assim! Claro que sou, carne e osso.
- Desculpe, mas nenhuma carne e nenhum osso humano agüentariam este frio que estamos enfrentando.
- Concordo, mas o que sou então?
- Você é um dos meus.
- Está dizendo que sou um anjo também?
- Sim. É um anjo, assim como eu. Um anjo decaído.

Já não era surpresa, Ashkaril estava argumentando com certa sapiência, eu não podia mais argumentar contra ele. Não sabia mais o que fazer. Aceitei por enquanto aquela condição. Ele se mostrou um tanto quanto próximo ao me defender daquele monstro. Ele estava ferido e eu sem meus sentidos, era incrível como ele ainda estava em pé, não podia acreditar na forma como eu reagi a tudo, durante a batalha, eu estava paralisado, tinha consciência disso e somente, não podia me mover, carregado nos braços de Ashkaril. E agora, é como se um dos sentidos estivessem se aflorando em mim, um sentido que me guiava para o nosso destino. Queria voltar para casa, somente isso. Lena e Aliek me esperavam, queria poder voltar sem todos estes problemas, como faria para defendê-los agora? Eu jamais poderia ouvir novamente a voz doce de Lena, e nem as historias mirabolantes que Aliek contava ao brincar com seus bonecos. Realmente, eu não acreditei muito nesta tese de que eu sou um deles e que recuperarei meus sentidos. Estou confuso. Não sei se realmente quero voltar para casa neste estado. Vão sofrer minha ausência, mas podem sofrer também por meu sofrimento.

“Ashkaril não levantou vôo desta vez, carregava Yvel nos braços. No caminho de sua casa, Yvel não sabia se queria chegar daquela forma.”


domingo, 14 de agosto de 2011

Confessionário - Apresentando VoM


Temo que tenha pouco tempo para explicar a diferença das coisas/classes/tipos.
Tentarei ser o mais rápido possível antes que tudo vá ao fundo. Escutei a pouco que tudo o que você me dá é lindo de morrer, ao som dos Mutantes e a Jovem Guarda que se exploda (sei que vou perder muitos leitores ao redigir isto, se é que tem alguém aqui que entra para ler por simples prazer da leitura, realmente escrevo bem? Complexo existencial agora não, por favor).

Ontem me deparei com o VoM (sigla de Vampire of Moon, um dos heterônimos que utilizei faz tempo e mais tempo), ele surge como alguém que não posso combater, ele surge.
Esta alergia me mata aos poucos (alergia a pó, mas o mundo é feito disso, tenho alergia de mundo então?)

Novamente ao som dos Mutantes, época da Rita, do Arnaldo e Cia ltda...

VoM. Às vezes tenho discussões sérias com ele, sérias mesmo, só não saímos na porrada porque não sou idiota e nem louco (temo que isso seja mentira, mas... Tantôfaz) Estive falando sobre algumas pessoas (sim, eu presto muita atenção nas pessoas que passam por mim). Eu dizia que eram boas, VoM já me vinha com todo seu sarcasmo: - deixe de ser besta, povinho chucro, sem cultura, digno de pena. Eu me olhei (olhando para VoM, é claro), segue o diálogo:

- Acha mesmo estas pessoas dignas de pena? (eu, Dan)

- Acho sim, algumas mal sabem o que estão fazendo aqui, pensam ser felizes desse modo. Dizem-se a favor de muitas coisas que são obrigadas a fazer para SIMPLES ACEITAÇÃO, falam de coisas antigas, com um saudosismo aflorado, falando com nostalgia de coisas que nem viveram. História ESCRITA e JAMAIS VIVIDA.

- Sem palavras senhor, continue seu texto, o meu você conhece, pacífico apenas.

- Sim, você só escuta e escuta e escuta. Eu aqui, tentando te fazer entender que só escutar faz mal.

- Escutar faz bem às pessoas, fazer bem ao próximo faz bem pra mim.

- Eu acho que você deveria olhar para si mesmo, ver o que te faz bem sem dúvidas de ser ou 
 não ser, fazer ou não fazer, já pensou em dosar o escutar e falar também? Ou então, deixa que eu faço isso, você escuta, eu falo (VoM sorria apenas, naquele tom irônico de sempre).

- Há, eu conheci um heterônimo, tal de Jorge, um machão aí, preso num corpo de menina e por falar nisso, ela é muito bonita.

- Bonita? Sim. E muito gostosa. Mas não mude de assunto.

- Desculpe, mas não posso te deixar solto, você é cruel.

- Cruel não, realista. Apenas.

- Vou parar por aqui, estão me expulsando do quarto.

- E você vai, pacífico.

- Pacífico não... Educado.


sábado, 13 de agosto de 2011

Divã...

Arrisca-se a tentar o outro lado da moeda?

Alguma vez tentou descobrir o outro lado?

Você pretende voar, sem enfrentar uma realidade que te cerca de forma obscura. Está tudo claro a sua volta de forma confortável.

Mas, já tentou ir além do limite predisposto?

Você vive uma vida regrada, não pisa fora da linha, não transgride certas regras, você simplesmente aceita sua condição e acorda de manhã, lava seu rosto e olha pro espelho esperando sorrir. Sua alma está em prantos, seus medos estão aflorados, você transporta tudo aquilo para seu dia, que passa carregado, que passa arrastado, um dia que não se acaba.

Você espera que tudo se resolva com o tempo, este tempo que você quer viver, ao mesmo tempo em que tudo se resolve.

Já tentou olhar para todos aqueles problemas e simplesmente abandoná-los, olhar para as pessoas e dizer fodam-se vocês e suas vidas dependentes. Já imaginou se aquele rosto pacífico de menino fosse substituído por um rosto serio adulto. E aquela plaquinha de reclame aqui, substituída por uma de não sou psicólogo.

Não que eu não me importe com as pessoas, mas algumas abusam da boa vontade alheia, abusam mesmo, descarregando suas negatividades em pessoas que só estão aqui para ouvir e... Realmente ouvem e... Só ouvem. Já tentaram imaginar quanto peso essas pessoas carregam para si no momento em que são carregadas ou, Encarregadas de dar fim a sofrimentos e/ou anseios alheios? Não né? Claro que não, só pensam em falar dos seus problemas quando não, controlar a vida dessas pessoas. E assim, se vêem livres de tensão, jogando esta tensão para o seu próximo, que vai jogar pra mais um ou morrer com aquilo e geralmente a pessoa que escuta muito, demora para liberar. QUANDO libera. E aí,  vemos um saco de ar, se enchendo e enchendo, até que... ESTOURA!

Esta, é uma ode à estas pessoas, que assim como eu, tomam os problemas das pessoas ao redor para si. Escutam muito e falam pouco, podemos ser taxados de bobos por deixar que as coisas sejam como são ou então simplesmente aceitar.

Mas fazer o que? Nascemos assim...... Talvez se tivéssemos um diploma de Psicologia, ganharíamos para isso. Mas... Continuo pobre e TENSO!


sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Documentário


Ligou o chuveiro e foi buscar sua toalha, no momento em que a água esquentava, gerando aquele vapor característico. A porta estava entreaberta fazendo com que parte daquele ar meio úmido meio opaco se desfizesse no ar de fora, outra atmosfera, um universo paralelo que se formava naquele Box dois por um e meio.

Ela tinha uma vida boa, um trabalho digno, não tinha vícios nem doenças, muito menos deficiências. Era uma pessoa humilde, de bom caráter. Vivia sua vida em busca de algo melhor e nunca lhe faltou coragem, nunca houveram desentendimentos e/ou brigas. Seus cabelos longos tinham tons de cinza em meio ao loiro quase branco, ela era bem vaidosa, mas regrada. Não tinha futilidades tinha sempre um livro na bolsa, pois sabia que seu maior companheiro nas horas vagas seria o conhecimento.

Entrou em baixo, esperando conforto.

A água estava no ponto certo, quente como era de costume, espuma escorria por seus cabelos, molhava sua face de anjo (sim, ela era linda), relaxava com aquele banho quente. Deixando a água escorrer por seu rosto, por seu corpo, estava estática, parada em baixo do chuveiro captando todo tipo de sensação produzida.

Fechar os olhos e sentir que estava bem consigo mesma após se entregar aos prazeres que pensava ser sublimes. Caindo em si soltando um leve sorriso, seu corpo estava tenso apesar de tudo. Tinha um peso em suas costas, tinha medo de que algo estivesse acontecendo fora dali, seu sorriso foi se desfazendo em meio ao vapor que se juntava ao seu semblante, a tristeza tomaria conta daquele momento, ela tinha ainda uma esperança, a solidão não lhe era mais agradável.

Alguns instantes após o inicio, suas lagrimas escorriam, misturando-se a água que caia do chuveiro, não se sabia se as lagrimas turvavam a água doce ou se o doce das águas é que se misturava ao sal. Ela não tinha mais idéia do que se podia fazer. Em visão na diferença da versão.

Cortando os pulsos num instante em que aquela angustia sufocava. Aprender sobre o mundo a deixou aversiva ao mesmo. A água agora misturada num tom de vermelho, o sangue quente escorria pelo chão e uma vida escapava por entre os dedos daquela jovem por um momento de descuido.
Ele, entrando no banheiro com as palavras “eu te perdôo” pronunciadas.

A cena que era branca da cor dos azulejos, com desenhos abstratos como detalhe, aquele espelho embaçado e só. Seu coração batia com uma força incomum, ao ouvir o chuveiro ligado se tranquilizou abrindo a porta sem nenhuma pressa.

Via-se em tons escarlate, na água, no ralo, pelo chão daquele quadrante. Desejos, sonhos. Palavras de carinho eram dispostas ao vento, enquanto ele abraçava aquele corpo sem vida. Não mais estava ali alguém que lutou por um lugar ao sol. Alguém que não podia mais lutar. Ele a vestiu, tampou os ferimentos e a deitou na cama. Deitou ao seu lado aguardando a chegada da ambulância, que já vinha com as luzes apagadas.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Tão Distante - Parte 5 - O Passado

Duvidava ainda do que via, seria apenas um sonho ruim. Tudo aquilo não passava de um sonho ruim, cedo ou tarde eu acordaria em minha cama, ao lado de Lena. Iria até o quarto de Aliek, vigiar seu sono, verificar se está tudo bem com nossa casa. Sairia para caçar e cuidar para que nada de mau acontecesse para nós. Não estou negando a realidade, não é isso, mas chega de fantasia por hoje, por hoje e por toda esta noite. Esta aberração, apesar de me salvar também é fruto de minha imaginação, de um sonho ruim.

- Vamos Yvel, reaja, preciso de sua ajuda. (dizia Ashkaril esperando que Yvel tomasse partido de algo)

Eu estava amolecido, meu corpo tremia. Não sei porque, minhas mãos não respondiam aos meus comandos, nenhuma parte do meu corpo respondia, eu ouvi a aberração gritar meu nome foi só o que ouvi. Pude ver a fera metálica investindo em nós. Ashkaril desviava somente, talvez não pudesse atacá-la, não sei ao certo. Tudo estava confuso.

Foi quando despenquei daquela altura, fomos atingidos por um disparo efetuado pelo canhão esquerdo da fera ou seria o direito... ainda no chão, vi aquele anjo resistir firmemente aos ataques ao mesmo tempo em que defendia minha posição, eu estava caído, indefeso, me ver naquela situação, dependendo de alguém que nem ao menos confiava, porém ele lutava com todas as suas forças.

“A fera metálica, seu nome era CYB010-SXTRM, um robô em formato de animal, o exercito dos Cybers tinha este costume, o de fabricar maquinas de guerra com formato de animais terrestres, nada de incomum, alias aquele urso, era somente a décima evolução de 50 gerações. Para se ter uma idéia da força que tinham em combate.”

Consegui olhar para cima, a fera estava a ponto de esmagar meu corpo. Eu morreria ali, pisoteado como um verme, não implorei por misericórdia, apenas fechei os olhos e pedi que aquele sonho tivesse fim. Foi então que senti alguma coisa puxando meus braços, era Ashkaril, arriscando sua vida novamente. Ashkaril num golpe de sorte conseguiu se posicionar atrás do urso, atingindo seus circuitos com um raio que saiu de seus olhos. A fera em um momento de explosão gerou um campo magnético que estourou meus tímpanos, a luz queimou minha retina, queimou minha roupa também.

Ouvi um zunido e mais nada.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tão Distante - Parte 4 - O Passado

Despertar de mais um dia, pude ver que o sol apontava lá no horizonte, desígnio de renascimento. Duelo entre o bem e o mal, a noite se saia muito bem pois, mais uma vez não dormi, caminhava como um louco, minhas vestes estavam se rasgando a cada dia, o frio não rasgava minha pele, eu estava acostumado. Aliás, eu estava pouco me importando com o clima, apontava uma casinha ao longe, distante demais para minha visão identificar, porém, não havia mais ninguém morando ali, naquele fim de mundo. 

Foi quando Ashkaril resolveu iniciar uma tese junto as minhas idéias, impossível não escutá-lo. Mesmo de boca fechada ele se comunicava comigo, era estranho, eu pensava em suas palavras e respondia, ele olhava pra mim, sabendo minha resposta e retrucando.

- Yvel, isto se chama telepatia, é um artifício utilizado por nós, a comunicação é instantânea e de baixo custo. (Ashkaril não abria a boca enquanto sua voz ecoava na cabeça de Yvel)
- Agora a aberração resolveu falar sem mexer a boca, eu estou ficando maluco ou coisa parecida.(Yvel,pensando aquilo)
- Yvel. Você não está louco... e eu tão pouco sou uma aberração, aceite que os fatos que expus são fantasiosos no seu ponto de vista, mas são convincentes, inclusive esta nossa conversa. (Ashkaril desta vez disse em alto e bom som, fazendo Yvel arregalar os olhos)
- OK! Mas ainda vou chegar em minha casa e provar que você está inventando tudo isso.

“Então Ashkaril tem uma surpresa.”

- Ei, você!
- Falou comigo? (Ashkaril não entendera)
- Sim, falei, só você pode falar com os outros sem mexer a boca?
- Você pode fazer isso também?
- Telepatia? Eu brincava com Aliek de fazer isso.
- Ashkaril desceu para o chão e sentou-se.
- Você disse que seu filho também pode se comunicar desta forma?
- Sim, brincávamos disso.

“Ashkaril não podia acreditar nas coisas que ouvia. Yvel realmente estava se comunicando com telepatia, sem problemas. Como estaria na mesma sintonia, já que Yvel, não estava treinado para tal, o mesmo acontecia em relação a Ashkaril. Ao mesmo tempo que ele se comunicava, lia os pensamentos de Yvel que somente pensava, nada além.  O anjo decaído estava assustado também, como poderia ter tamanho poder um rapaz bruto, cresceu sem nenhum preparo, era um mistério.”

Aquela casa distante, tão distante. A mesma que eu via em minha ida. Talvez a mesma casa, mas eu nunca chegaria nela. Eu precisava voltar, Aliek e Lena estavam a minha espera. Não poderia falhar, não agora.

“Foi quando a terra tremeu, um enorme buraco se abria no gelo. Ashkaril gritou com firmeza: - OS CYBERS!”

Realmente aquilo me abalou, um raio saia da terra como quando Ashkaril fez o primeiro contato. A fera que saiu daquele buraco, que parecia uma cratera, era algo parecido com um urso, feito de lata, metal, não sei dizer. Ele era dotado de garras enormes e dentes afiados. Dois canhões sairiam de seus ombros. Meu coração batia forte com o susto, quando cai em mim, estava voando, Ashkaril me pegou pelos braços e me levantou estávamos a uns vinte metros de altura, não teria tanta certeza não fossem os pinheiros antigos da mata local que se mantinham nestes patamares. Fui salvo pela aberração. Estava ali, a meio fio de enfrentar aquela fera. Lutar ou morrer.



sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Repetimento inexato - Eva


As sombras ao pé dos edifícios, causando um momento único durante a manhã daquele dia, entre os reflexos, as sombras, Eva se despedia de seu filho e sentia algo diferente naquela manhã. Alex sairia mais cedo que não era normal e ela sabia o porquê, sabia e não iria impedi-lo. Lutar por um país livre seria como se ela voltasse no tempo em que seu marido foi morto por militares, Raul, lutava igual seu filho, era bonito de ver a paixão com que ele discursava diante de seus companheiros. Porém mais tarde viria a ser um dos procurados pelas altas patentes do sistema. Encontrado, torturado e morto.

Alex seria seu pai, mais jovem, com idéias mais modernas, porém com o mesmo espírito. Não seria a favor do sistema que aprisionava a população, censurava e retalhava a imprensa. Nada podia ser feito sem passar por rigorosos controles e censurados caso não fossem aceitos. Brigar com o sistema seria algo irreal, seria como mover uma montanha com a força dos braços.

Eva se maravilhava cada dia mais com seu filho, apesar de ter medo que ele viria a ter o mesmo fim de seu pai. Mas era tão lindo quanto Raul, ela tinha um sorriso que não cabia na boca. Preocupava-se sim, mas além de tudo, desejava que seu menino fosse quem Raul foi.

Podia-se ouvir o barulho da passeata virando a esquina e descendo a rua, que passava em frente à janela do quarto de Alex. Eva, foi então olhar aquela marcha, que coisa mais linda, que orgulho. Ela queria descer os nove andares que separavam aquele exemplo de união, aquele exemplo de luta. Sentiu certa diferença no beijo de seu filho, um ar de despedida, mas não se pronunciou.

Ela debruçou na sacada, admirando aquele momento único de uma manhã estranha, Eva que não sofria de insônia, mas não conseguiu pregar os olhos naquela noite.
Esperava ver seu filho, Eva era mãe de três, Alex, Alberto e Wagner (do mais velho para o mais novo. Wagner, já retratado, Alberto ainda não).

Do alto do edifício residencial, ainda as sombras tomavam conta de parte das paredes, enquanto a passeata entrava na rua principal. Eva teve um mau pressentimento, olhando para o lado e percebendo a policia montando um cerco a uns 4 quarteirões dali. Os prédios formavam um enorme muro, na floresta de pedra que se fazia, em meio aos esqueletos dando inicio a novas construções, o sol passava por entre as frestas que permitiam.

A passeata descendo a rua em ritmo alucinante, Eva pensou em correr, mas com sua idade já avançada, largou tudo. Avental, chinelos, nem se olhou no espelho antes de sair (como sempre fazia). Tinha pressa de avisar os manifestantes, queria salvar a vida de seus filhos.

Descendo pelo elevador de serviço, Eva podia ouvir os disparos efetuados pela guarda nacional. Desesperada começou a apertar alguns botões no elevador, tentando fazer a descida uma coisa mais rápida, aflita, apertou o botão de emergência fazendo o elevador parar. Lagrimas escorrendo de seu rosto, temendo pelo pior. Descobrira porque não dormiu aquela noite. Eva foi encontrada pelos bombeiros, horas após. Estava sentada no chão do elevador, escuro (luzes queimadas), entre o 4º e 5º andar. Soube da noticia de que Alex estava morto logo após ser retirada do elevador por um vizinho amigo da família.

Ela sabia que aquilo podia acontecer, remoendo ainda um passado próximo, sentiu o beijo de Alex, se despedindo, eles sabiam que não mais iriam se ver daquela manhã em diante. Agora ela temia por Alberto, seu filho do meio que estava do lado das forças armadas. Por opção.