Encontrou seu refúgio no primeiro buraco que encontrou. Não
tinha ideia da profundidade, se seria mais fácil enfrentar o caçador ou
aguardar o fim do abismo, enfim, pulou.
Durante a queda, sentia uma corrente de ar em ambos os
lados, formavam por entre seus dedos a pressão causada pela resistência do ar.
Seu corpo flutuava, ao invés de cair, não sentia mais a gravidade.
Fechar os olhos e enxergar seu trajeto até ali. Pensava em
coisas, nada com muita clareza. Estava com muito medo, talvez confuso, em um
momento de embriaguês foi o que manteve seu coração menos apertado a adrenalina
deixava seu corpo trêmulo, a dose relaxava. Anunciou ao garçom que a próxima seria
dupla e sem gelo. Prontamente atendido, com classe.
Olhava para o fundo do copo, já vazio, ao fundo tocavam um
Blues, meio folk meio antigo. Faltava a melodia, faltava o encanto. Surgia na
boca do palco um vocalista com o rosto pintado com tons obscuros e algo que
brilhava em seu olhar, a voz não saia e mais uma dose para aquecer o peito. Lá
fora uma nevasca e por dentro um placebo.
Pílulas, pó, olhos vermelhos, cabelo encrespado, ensebado.
Ele olhou nos olhos do garçom, puxando o mesmo pelo
colarinho que esperando mais uma dose, ouviu um estampido.
Com um tiro na boca, suicidou-se.
Não via o fundo e não ousava olhar para trás, apenas sabia
que a luz não mais tocava seu corpo.