domingo, 20 de outubro de 2013

As quatro estações

Como se já não fosse por vontade da natureza que os corpos de completassem naquela noite. A lua, que acima de suas cabeças, fazia um semblante parecido com uma vela acesa, luz, clara, prateada. Sob um manto vermelho, apenas sentiam que por dentro, um calor aquecia seus corações que palpitavam em pouca disritmia.

Prometiam perante aquela união com juras e mais juras. Era infinito, numa atmosfera intensa, o ar mais rarefeito surgia em nuances e vertigens. Dançavam juntos como se fosse a ultima vez.

Tocavam-se, olhavam-se (olhos nos olhos), a curiosidade pelo desconhecido era vencida. A pele arrepiava enquanto as mãos pouco mais ásperas passavam devagar pelas pernas lisas, subindo pela cintura chegando ao dorso e nuca, caindo pelos braços. Enfim, mãos nas mãos e dedos entrelaçados. Como se não houvesse barreiras e como em ondas, chegavam ao êxtase.


Deitados ainda com o sol nascendo em meio as arvores, as mãos coladas, pernas juntas e num abraço foram despertando com os pássaros.


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Trinqua

Estática, não estatizada. Parada mas não sem mover seus pequenos dedos de menina, com quase meio ano. Sim, meio ano, ou, seis meses de vida. Peguei-me pensando em como alguém percebe que se passou metade de um ano, geralmente quando se chega a junho ou julho.

E naqueles papos de senhorinha, de casaquinho marrom e tudo mais, inclusive com aquelas meias e “chinelas” de dias frios, quando uma diz (para puxar assunto) nossa, já se foi o ano todo e a outra emenda, mais metade e acabou.

Ela já tem quase seis meses e ainda me lembro, quando escutei seu primeiro choro, quando fui barrado na porta da maternidade com um BigMac e um CheeseBurguer  na mochila para a Lelis não comer só 3 bolachinhas e um copo de chá sem açúcar. Vã tentativa que ainda tentei convencer o rapaz do drive-thru do McDonald’s a vender um TopSunday de chocolate num copo maior porque eu iria “muquifá-lo” também, talvez entre as fraldas. E sem contar que ainda tentei convencer também o guarda noturno a mandar o lanche até o quarto. Vã tentativa mais uma vez.

Acabei sentado na mureta da praça, em frente à porta da maternidade. Olhando para o andar no qual ela situava, há quase seis meses atrás.


sábado, 21 de setembro de 2013

Aos dez

Conto hoje sobre uma senhora viúva que frequentava a casa de minha avó materna, a qual eu passei parte da minha infância, era raro algum dia que ela não aparecia e quando não aparecia, bem, saberão no decorrer da crônica.

Continuo daqui, de onde simplesmente não me esqueço da vez que ela entrou por aquela porta da edícula que minha avó June morava, sim June Maria, pois acho que só June o padre não batizava. A senhorinha me olhava com um tom meio ameaçador e um sotaque antigo carregando os erres. Falava da vida de toda a vizinhança e tudo o mais. Ela sempre dizia que estava muito nerrrvosa por algo que aconteceu na TV, ou no noticiário da radio. Era complicado para uma criança de apenas 10 anos de idade, compreender a necessidade da velhota falar com o sotaque carregado e claro ser o Jornal ambulante do bairro.

Mas como um jornal ambulante do bairro seria tão completo se não houvesse a sessão fúnebre, com as notícias de todas as funerárias, incluindo hora do velório e enterros, acho que sabia também quem compareceria e também dava uma passadinha para ter certeza (tenho certeza). Ela chegava no portão e minha avó anunciava na sala, é a Dorotí (não era “Dóroti” do Wizard of OZ, era Dorotí mesmo) meu avô, tirando o radinho da orelha com o jogo da quarta divisão do campeonato paulista de futebol júnior dizia (mas, só para mim): - quem será que morreu?

Pois ela mal pisava na sala e já dizia, June, June, boa tarde seu Antônio (meu avô, que os Deuses o tenham), sabe quem morreu? E minha vó com certo constrangimento, perguntava, quem? Ela descarregava a história do defunto, dizia que estava doente ou internado ou até mesmo sobre o acidente fatal. Era estranho saber de tanta gente morrendo enquanto brincava de hominho no braço do sofá ou jogava truco com o avô durante a tarde. Mas era assim toda visita, até que um dia ela faltou e meu avô por pura coincidência viu no jornal da cidade nas notas funerais que ninguém havia morrido (pelo menos não constava ali). Ele dizia para mim (mas, só para mim): - Hoje a Dorotí não virá, não morreu ninguém (ele utilizava o mais perfeito português falado e utilizava os verbos nos tempos corretos sempre).

Quando foi num dia que dormi até mais tarde e minha mãe liga em casa, eu atendo com aquela voz de sábado de manhã antes do “Sábado Animado” (será que se lembram?) e ela pergunta com uma voz até sarcástica (a mesma que meu avô fazia): - Dan, sabe quem morreu?


Eu já sabia.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Em caso de emergência, quebre o vidro.

Entre as cores mais belas que se via, o por do sol se voltava contra os olhos, fechava-se as pálpebras e mesmo assim alguns vultos roxeados eram percebidos pela essência.

Todas aquelas pessoas, indo e vindo. Uma escada, corrimões estranhos, tortos. Faixas avermelhadas no céu entre os cabelos negros por dentro do véu que cobria a santidade. Num voo rasante descobria que apenas manipulava o ar ao invés de flutuar, mais rarefeito. Bonito ver os pássaros mais de perto, juntamente a linha entre a terra e o céu havia meio astro, hélio.

Num rabisco a mais tornava o satélite presente. Um sorriso denunciava a míngua, o quase fim. Anoitecia com diamantes num tapete crepuscular. Seria uma noite quente, por hora e por honra. A cerejeira tatuada, lembrar-se-ia de tons aquarelados, aqueles lábios roseados, olhos negros, respiração ofegante, vidros embaçados.

Bons sonhos.

E no fim, um Buda em posição da flor de lótus, tons lisérgicos no fundo.


O astro rei ainda brilhava em suas mãos.


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Resenha

Questão de entendimento, nada a ver com “Understanding” já que a compreensão é algo que se faz durante o cotidiano. Sabe quando a gente dorme no sofá meio sem querer e acorda no meio da madrugada procurando?

Respirava fundo e enquanto soltava o ar, a fumaça que preenchia seus pulmões se dissipavam no monóxido. A perspectiva que a sua frente fazia da vertigem sua melhor amiga e companheira, ela estava ali, deitada ao seu lado. Dizendo palavras de conforto e alívio, a expressão em seu rosto acusava o gosto amargo em sua boca, três ou quatro quarteirões à frente, enquanto a visão se fechava.

Em meio à floresta enquanto soprava o vento frio e úmido, holofotes queimavam sua retina, estreitando as relações entre pupila (ou menina dos olhos) e as pálpebras. Parecendo muito com o final que passava com o Bardem em Biutiful.

Deitado ao teu lado, ouvindo você respirar. A vida flui dentro de você.              

Mudam os tempos e as pessoas permanecem ali, paradas. Nasceu uma estrela no céu no dia que tudo isso começou, logo de inicio, no grande dia já se estranhava o próprio dia, o local e tudo mais.

As pessoas se estranhavam e quando o dia acabou. Ainda se amavam loucamente.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Dead Poet


(sonorize)

Importe-se (sim).
Tenha em mente algo útil (ou não).
Busque saber (é importante, mas não essencial).
Aprenda algo hoje (meio slogan pronto).

Denomine (seja breve).

Alcance (vá mais alto).
Tatue algo na pele (algo que te faça abrir os olhos e não algo que as pessoas digam uau).
Tatue algo no peito (pois um grande amor é necessário).
Pense no dia de ontem e no que você pode mudar hoje (mas nada que tenha se arrependido, arrependimento mata aos poucos).
Ore, reze, peça ou cale-se (independendo o seu credo).
Cante uma canção de efeito (e outra que você goste).

Seja.

Haja o que houver, não deixe o dia escapar por entre os dedos (Seize the day, Carpe Dien...).
E no fim, respire fundo. (deixe o dia sair pelas suas narinas, encoste a cabeça no travesseiro e durma tranquilo).

Ah, e podem me chamar de Nuwanda.




quinta-feira, 25 de abril de 2013

O Tejo


Madrugada,
Descobre-me o rio
que atravesso tanto
para nada;

E este encanto,
prende por um fio,
a testemunha do que eu sei dizer.

E a cidade,
chamam-lhe Lisboa
mas é só um rio
que é verdade,
só um rio,
é a casa de água,
casa da cidade em que vim nascer.

Tejo, meu doce Tejo, corres assim;
corres há milênios sem te arrepender,
és a casa de água onde há poucos anos eu escolhi nascer.


sábado, 20 de abril de 2013

Liber


Vermelho. O self estava mais aguçado, era quente em partes e frio no maior período espaço/tempo.

Respiração ofegante, o ar parecia não preencher totalmente seus pulmões. Olhou para as costelas, já esmagadas pelo esforço desnecessário que o externo fazia, ouvia um som abafado meio desencontrado, mas entendia apenas a palavra “ferragens”. Medo de alguma coisa ter se chocado com a matriz, medo do mau tempo. Ninguém sabia, mas quando olhou por entre os tecidos, os raios se quebrando no céu e arrebentando a terra, estremecia por todo o arredor. Não era culpa sua, apenas um dado que fora lançado.

Girando e girando, no olho do furacão, parou e acompanhou os ventos passo a passo. Devagar foi se livrando da clausura, como se suas correntes se partissem. A pele já dilacerada, agora tinha um aspecto de necrose, viu como num piscar de olhos tudo aquilo sumir.

Estava num oásis.

Sentiu a luz se aproximando.

Abrir os olhos, entender o cenário, o relógio parado na hora zero. Piazzolla e seu bandoneón ao fundo. Estava de volta entre raios e uma tempestade que batia com violência na janela. O café estava pronto, mesa posta.  Rabiscou qualquer coisa num caderno que mantinha sobre a cabeceira e levantou-se. Ao sair do quarto, percebeu que estava em uma cratera escavada por um Boeing 787 dinamitado.

Buscou a fechadura, era seu porto seguro.


sábado, 30 de março de 2013

Alívio


Drivers e motherboards, espalhados pelo corpo, os circuitos corrompidos e trilhas desfeitas durante as rotas de desembarque, o BUS já não suportava mais os 5v que ultrapassava as barreiras.

Entrava luz, pelo nervo ótico a percepção humana era capaz de criar imagens, já que, alguns artefatos surgiam no ultimo dia de sua meia vida. Seria substituído então por lentes olho de peixe e observando de perto o nervo foste substituído também por um cabo de fibra (um fio de vidro do calibre de um fio de cabelo, revestido por um vinil estéril). Tendões de Aquiles ou não, criados através de células mortas e cabos de aço, músculos, cortiça.

Os sentidos criados na robótica, não convertiam a fé em lágrimas. Assim mesmo o ser humano vivente descendia dos seres dotados de erros e alguns acertos, sem óleo ou combustível. A criação, em ferro, aço e circuitos tinha algo que o tornava vivo, seu combustível fora criado e não mantinha a bateria acesa, muito, aliás, uma bateria que se auto carregava durante os movimentos circulares que a engrenagem fazia ao ser acionada pela alavanca giratória. Era como um leme.

Em seu primeiro passo, a vida passou diante de seus olhos, carregou, correu, caiu, escorregou, aprendeu e utilizou a memória pela primeira vez, fez daquele passo o primeiro setor do disco rígido, anotando na pasta do sistema o modo caminhar. Ainda não tinha muitas utilidades, apenas o básico onde a força era necessária. Foi estranho o aprendizado e o mesmo se dizia da memória que ninguém poderia prever o inicio (ou trilha zero) e nem o fim. O montador dizia que seus circuitos eram autoimunes, matavam setores defeituosos e o sistema imunológico não permitia a entrada vírus e spywares.

Havia uma antena, em seu ombro direito que se abria periodicamente em busca de novas atualizações, o sistema era checado, o hardware reinventado, peças novas a todo o momento eram lançadas, novas forjas eram construídas e amortecedores instalados. Uma nova armadura dava proteção contra o frio (era térmica), pele de metal.

Sua memória se apagava com frequência. Bad blocks, corrompendo as informações até que o sistema esquecimento e desligamento foram ativados num curto circuito.

Travar os dentes com parafusos de rosca soberba não acabaria com a dor. As gengivas eram de carne.



Primavera nos Dentes

Quem tem consciência pra se ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa contra a mola que resiste.

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera.


terça-feira, 19 de março de 2013

Sutil


Um quarto. Mais ou menos a metade de um.
Um leito.

Os tiros, escutados a quinhentos metros de distância, seguidos dos pneus queimando o asfalto vinte minutos depois. Talvez tempo suficiente para chegar o socorro. As ambulâncias, donas das sirenes as quais ouviam naquele quarto, eram do hospital do subúrbio.
Tão acostumados aos barulhos noturnos que nem se deram ao trabalho de correr contra o tempo para salvar uma vida.

Tocava o telefone do posto policial do 9º distrito, procuravam alguém da científica, da homicídios.
O quarto vazio, a meia luz dos postes entrava pela fresta das janelas fechadas pelos tapumes mal pregados. Era uma luz avermelhada, causava uma penumbra por entre os feixes, a arma, fora deixada ali ao lado do corpo.

Quase nua, respirava pó, expirava pó, automático, agonizando, pela força do diafragma. Corpo surrado, meias arrancadas a força no meio das coxas, a calcinha nos joelhos, um corpete preto, couro, com detalhes em vermelho, corações, salto alto. Estava produzida, estava ali, inerte. Ressalto que não foi vítima de um estupro, era seu trabalho, tomava as rédeas das situações na maior parte das vezes.

Naquele dia, ela acordou, tomou um café frio da termal colocada dois dias antes na mesa ao lado da TV, enquanto cheia não seria trocada. A lei da substituição não cabia aos luxos do patrimônio. Ninguém a viu entrar na farmácia, ninguém soube dizer seu nome, ela tinha cabelos hora escuros, hora claros, hora presos, hora soltos. Não tinha rosto, não tinha gosto.

Entrar no quarto, observando a cena do crime em primeira mão. Recebeu um chiado no rádio que o fez desistir. Chamando o IML para recolher o corpo, dando tempo somente para uma foto. O sangue no lençol branco, preparado especialmente para aquela noite, confundia junto à cor da luz refratada nos espelhos e nos vidros estilhaçados.

Um cigarro no cinzeiro, meio aceso ou meio apagado, tanto faz. Não fariam diferença o cigarro ou os dois riscos em azul.


domingo, 10 de março de 2013

Por quem os sinos dobram


[leia sussurrando] Os talheres de ambos os lados do prato, eles se contorciam e de forma descendente de dentro pra fora seguiam a etiqueta. O céu se fechava para mais um temporal e na hora do relâmpago a luz se apagou [até aqui], retornando após alguns segundos. Deu pra ver o clarão que não deixou de formar aquelas sombras estranhas na parede em frente à janela. Os castiçais na mesa, não permitiram faltar a luz, as crianças corriam para o abrigo dos pais, deixando a brincadeira de lado, no fim, todos riram, pois não era sempre que a luz acabava.

Sempre que as crianças brincavam no jardim, juntavam-se os mais velhos e os mais novos, brincadeiras de roda, pique esconde, pega-pega. Os maiores já brincavam de ser grandes, imitavam os trejeitos dos homens mais velhos, servindo-se de bebidas e gesticulavam como se degustassem de um delicioso cachimbo após a refeição. Gesticulavam também os gestos, durante um bate-papo mais descontraído, porém nunca saíam do trivial ou do dito tradicional. Sentavam-se com certo cuidado, sem erros, duros com suas posturas e concisos nos discursos.

Chapéus das mais diversas formas, variadas cores e o preto para os homens. Afivelados, penteados padronizados, vestimentas longas, calças sociais, ao invés das botinas, sapatos devidamente engraxados. Todos preparados para mostrar seu melhor para a sociedade.

Eram observados por seres que na viviam ali, ao lado. Ao redor, lambiam os beiços com os pratos que eram servidos. Não entravam em contato com as crianças limpas e nem ao menos chegavam perto dos mais velhos. A festa estava fechada.

[sussurrando novamente] As crianças não entendiam porque estavam do lado de fora e arriscavam pedir para entrar, batiam na janela e os seres de dentro nem sequer prestavam atenção. Os mais velhos não queriam mais perder tempo, voltaram para a aldeia levando suas crianças para o aconchego do lar, com fogueira e brinquedos de restos de brinquedos, comem o de sempre e sempre dormem em suas casas feitas de restos de construção. São tudo e dos mais variados modos, menos resto [até aqui].


domingo, 3 de março de 2013

Papo de elevador - nº 7


Bom dia, dizia o rádio na sala da megera, para não dizer Dona Clementina. Com seu chapéu de plumas de pavão cinzento . Cinzento? Sim, os Pavões são meus, eu boto a cor que eu quiser! Era esta a desculpa para as penas cinza que a dona muambinha dava para qualquer questionamento sobre os tais dos pavões cinzentos. Enquanto seguiam as notícias, a velhota resolveu encrencar com alguém, encrencou logo com o Manda chuva, ou, Sr. Meinfuhrer:

- Bom dia Sr. Gostaria de relatar seríssimos problemas quanto aos pombos que fazem ninho em toda a nossa estrutura. Além de doenças, parasitas e mau cheiro, estas aves são tão repugnantes, não acha Sr.?

- Certo, e você quer que eu faça o que? Saia atirando nos pombos? Quer que eu faça um campo de concentração?

- Você pode chamar o Silva para arrancar estas aves nojentas da minha sacada, PRINCIPALMENTE.

- Tá, tá, vou chama-lo, agora com licença, vou reunir meus amiguinhos para uma partida de War. Você joga?

- Claro que não. Não sou dada a estes vícios.

Enquanto isso, na cozinha do clube para não dizer empresa, o Moreira (agora Chef) prestava atenção no Silva (sim, o Silva, aquele que faz-tudo da empresa, geralmente o que varre, limpa, conserta, pinta, cava, tampa, sepulta, reza, dirige, busca as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passa o cafezinho todo santo dia. Ah, ele também ganha pouco ) que consertava o encanamento (sim, ele também era o encanador) dizendo que era problema de resfriamento térmico no termostato do cano principal do principio do principado (ó, que príncipe). O Moreira (agora Chef) observava com cara de poucos amigos, pois não tinha ideia do que o Silva dizia, mas, enfim, bem, era isso, de fácil resolução para nosso herói. Até que o cinto de utilidades tocava a musiquinha “Deutschland, Deutschland über alles” em toques monofônicos, o que faria o paladino mascarado (vulgo Silva) sair em disparada e largar todo o principado.

- Sim senhor? ­– dizia o Silva –

- Estamos com problemas no... 6 (após jogar os dados)!!

- Seis? Hum... é truco?

- Não, acabei de conquistar Moscow... mAUhUAHuAHuA

- Caramba, daqui da sala? Como essa era da internet está avançada, como se conquista o mundo assim?

- Segredinho, Silva, mas, antes do mundo, vá arrancar aqueles malditos pombos do telhado, aquela megera da Dona Clementina já veio buzinar na minha orelha sobre isso... e ainda veio com aquele chapéu ridículo com penas de pavões cinzentos, isso foi o que ela disse.

- Pavões cinzentos? Nunca ouvi falar desse bicho. Mas vou dar um jeito neles, pavões cinzentos.

Notava-se que Silva estava incomodado com aquela história dos pavões, afinal, era pra matar os pavões, trucidar os pombos, enforcar a velha ou talvez consertar a pia do Moreira (agora Chef). Deu cano no Moreira (agora, bem, Chef!) e foi matar os pavões (ou pombos).

Entrava num paradoxo do herói, matar os pombos, matar a velha deixar os pavões ou então consertar o cano do principado. No radio, que já dizia quase bom almoço, tocava uma música nada agradável aos ouvidos da dona Clementina, aquela do Tiririca (agora deputado) que ela ouvia toda vez uma brincadeirinha com seu nome. E não deu outra, tocava seu ramal e no outro lado da linha uma voz desconhecida cantarolava “Clementina, Clementina de Jesus, não sei se tu me amas pra que tu me seduz”. A velha ficou acesa, maluca, apesar de cantarolar junto, lembrava do Abelardo soltando um quase gemido: - Ai, Abelardo.

Era o Sr. Meinfuhrer, judiando da velhota mais uma vez, após conquistar seus 24 territórios e aniquilar o exercito Vermelho.

Quando na janela, ouvindo seu nome e batendo as pedrinhas: - toc, tec tec tec, Clementina, sai daí. – toc, tec tec tec, Clementina!.

Pensando no falecido, correu para a sacada onde encontraria seu príncipe, colocou seu chapéu de plumas de pavão para se embelezar.  Abrindo a janela, mal pode pronunciar o nome de seu amado. Um tijolo à vista arremessado de baixo pra cima, com a parábola perfeita e tudo mais, bem no meio da fuça da velha que desmaiou no chão de sua sala.

O Sr. Meinfuhrer abrindo a porta vendo a dona deitada no tapete real, exclamou com rispidez:

- Velha dorminhoca, deveria ao menos tirar uns dias de folga ao invés de ficar dormindo no serviço.

- Minha cabeça dói. – dizia a senhorinha –

- Claro que dói, está de ressaca ainda por cima. Você deveria se envergonhar por embriagar-se desse jeito. Não tolerarei mais isso, nem ao menos me chamou para um drink. Sem educação.

Do lado de fora, Washington chegaria com um saco de milho (daqueles de 20 quilos).

- Silva, vê se dessa vez não deixa “suas pomba” escapar, viu?

- Váchinton, tudo bem, não vou mais deixar a Clementina escapar, ela e o Fuduncento vão ficar aqui na gaiola.

- Tá, Silva, vou descer então. Agora me explica uma coisa, por que você jogou aquele tijolo?

- Ah, eu vi aquele pavão cinzento chegando perto da minha queridinha, pensei que ela iria virar almoço, acertei bem no meio da fuça daquele bicho asqueroso e salvei a Clementina (ou não?).


sábado, 2 de março de 2013

Na sala, no divã


Na sala, um projetor, alguém dizia algumas coisas sem o menor sentido. Falava de linguagem abstrata, falava de história, mas não se cansava de falar. Exemplos e suponhamos que algo aconteceu. A didática era horrível. Mas eu queria falar de outra coisa, acordei pensando num conto erótico, coisa que nunca escrevi por achar tão patético alguém descrever um ato sexual, uma situação a qual passou ou algo que fantasia, mas nunca viverá. É difícil crer, mas as pessoas possuem os desejos mais obscuros guardados em algum lugar, lá no fundo.

Cocei minha cabeça, estava coçando, talvez seja pelo fato que ainda não tomei banho, mas acho que eu não devo falar sobre a minha manhã. Foi maravilhosa de inicio e fantasiosa de outra, hoje fantasiei minha cama, ela estava lá, aquela mulher de cabelos agora castanhos (eu adorava o tom de cinza que ficou após o azulado, mas, bem... ela não). Castanho estava lindo, aliás, o cabelo é algo que eu gosto de ver em uma mulher e, o da senhora minha esposa, é fantástico. Engraçado o jeito que ela me olha as vezes, sua cor muda, ela passa um dia todo branquinha e de repente, ela cora. Ela olha nos meus olhos e fica com uma cor rosada nas maçãs do rosto.

Essa sala ainda aqui, uma tv enorme (um projetor e uma tela de projeção), o assunto é chato e não sei porque paguei por isso. O rapaz ali da tv acabou de dizer, “trabalhe sua escrita”, cá estou, enquanto muitos ainda apenas assistem a TV, eu estou digitando.
Palmas para mim. Palmas para essa pobre alma que só queria estar em casa.
O cara ali disse agora para não publicar o que eu escrevi, será que ele não gostou? Mas ele nem ao menos leu o que eu escrevi. Será que ele sabe que tenho um blog? Será que posso chamar isso de blog? Confesso, de joelhos (na forma mais figurada possível), estou entediado.

Citações do rapaz da telinha, Don Casmurro é uma novela mexicana de quinta categoria, ME PERGUNTO, será que vai passar no SBT?

O que mais posso fazer aqui, o que mais posso falar? Será que se interessariam por o que escrevo?
Pareço alguém no divã, né? Cadê? Cadê? Um divã é mais confortável que essa carteira de COQuinta (se é que me entendem, ham?, ham?).

Segundo o cara ali da telinha, 4 livros lidos ao ano está bom... aos mais assíduos, 12.
Alguém sabe se tem coca-cola aqui? Dá vontade de trazer um vinho pra sala de aula. Ah, tem mais cinco aqui, maior galera hein? A “tutora” é responsável por aumentar o som e abaixar o som, ah, ela pega as assinaturas de presença e, deve geralmente varrer, limpar, consertar, pintar, cavar, tampar, sepultar, rezar, dirigir, buscar as coxinhas da sexta, a mortadela da terça e passar o cafezinho todo santo dia. Há, ela também deve ganhar pouco.

O som das caixas fazem tremer o chão, o som está alto? Será?
Falei de divã, acho que vou escrever algo sobre, depois deste quase desabafo, ainda tem saco pra ler mais? Bom, ok. Lá vamos nós, este se chama, Divã. (ah, rolou um silêncio mortal agora na sala de aula, o cara acabou de dar sua aula e estamos aqui, nós seis, esperando por alguma coisa, e a tutora está ali, quieta, parada, olhando pro nada, ah, ah, ela passou aqui do meu lado agora pouco dizendo “acho que vou dormir”, bem, deve ter ido então).

Lá vamos nós, no Divã.

Ela se deitou, assinalava numa folhinha seus problemas, em uma lista tinham alguns sentimentos, sentidos, meio que uma “How do you feel list”. Ela aguardava, batia o pé num compasso próximo ao de um concerto de Rock n’Roll. Olhava no relógio. Olhava de novo [para por aqui, por enquanto][olhe para os lados, como se estivesse procurando algum barulho]. Ela tirava seus óculos de grau, colocava os escuros, não queria mostrar seus olhos, mas, para quem mostraria, estava sozinha. A porta ameaçou abrir, ela cruzou as pernas, a porta voltou (com o vento). Sentia o coração batendo mais rápido, sala quente, por hora, fria. Esfriavam-se os ânimos ao mesmo tempo em que o doutor entrava na sala. Pedia a prancheta, sem olhar para nada, olhava para baixo, lia algo que causou curiosidade na senhora sentada que aguardava o atendimento.

Sem entender, se eram maus tratos, ou se seria o costume da clínica, ela só queria resolver seus problemas mais bem escondidos atrás daquela carranca que vestia na face desde a hora de acordar. O médico entrava e saia da sala, hora com algo para ler, hora com cafezinho, hora com sorvete de casquinha (ela ouvira o sorveteiro passar, ficou com vontade, mas se conteve). O doutor saiu mais uma vez e voltou com um pássaro nos braços, era um pássaro de grande porte, sem entender lhufas do acontecido, ela resolveu falar. Meio sem jeito. “Doutor?” O olhar do homem que estava na sala foi fuzilando a senhora. Ela que se levantara para se comunicar, se sentou. Ele não produziu um único som. Apenas olhou-a bem no fundo dos olhos. Sem jeito, ela apenas sentou-se e continuou olhando para o “enjalecado” em sua frente perto da porta.

Chegaria o doutor, numa breve análise de suas respostas, perguntaria se mais algo que pudesse dizer. Ela estava assustada, apenas. O doutor tinha a mesma aparência de um dragão, vermelho, narinas saltadas, escamas e olhos répteis. Ele questionava sobre sua vida, o que a desagradava e ela sem querer ser indelicada, respondia que estava tudo bem. O dragão, cuspindo fogo, assinalava naquele bloquinho algumas anotações.

Ela estava incômoda naquele divã macio.

O doutor pedia que ela se acalmasse, mas como se acalmar diante de um tratamento daqueles, com um doutor com cara de dragão. Pensou que talvez devesse pedir um copo d’agua ou coisa parecida. Ouvia alguns sons que se repetiam como um eco. Estava atordoada enquanto fechava os olhos e se escondia em baixo de suas mãos. Encolhia-se, parecia sonhar com algo muito ruim. Retirando seu colar, descalçando seus sapatos e ameaçando se livrar do vestido, ela parou [câmera somente nos olhos, nariz e boca, perfil] ela retirava seus óculos escuros com calma, sorria delicadamente, passaria o batom erroneamente por toda sua boca, acima dos lábios e abaixo e abaixo.  Retirava da bolsa um cãozinho de pelúcia, ouvia a chuva, convidava o doutor para ouvir também, enquanto olhava ao redor e achava estranho não ter visto os pacientes todos nus quando chegou. Sentiu frio. Pés gelados. Mãos úmidas. Roía as unhas. [volta ao plano comum]

O menor ruído, se atentava, procurava conter-se ao real. Pisava no chão com certa cautela como se tudo fosse desmoronar, pisou e “despisou”. Sentia-se segura sentada, acocorada ali. Não queria sair de seu porto seguro.

Abrir os olhos não foi fácil, ela se balançava ainda quando a sala se devastou, a luz estava alaranjada, digna de um dia quente de primavera, uma tarde, sol das quatorze horas, árido. Era assim que se sentia sozinha na sala de estar de sua casa, o som da TV, movimento na rua, vento batendo na janela, barulho dos carros passando, caminhões.

[giro por toda sala com a senhora no centro][zoom out, até o céu]

Encerrava-se o dia com palavras cruzadas e esquizofrenia. Ela não tinha com quem conversar e o nada lhe parecia agradável. Sozinha em casa, a solidão a confortava. Não tinha medos nem receios, já nos últimos dias, comia biscoito de polvilho com café, de almoço. Jantava o que tinha na marmita do almoço que não foi servido. No criado mudo, um copo d’agua com um pires na boca. Ao deitar-se, dava boa noite ao seu falecido gato, que insistia em miar na janela que ela deixava aberta para ele entrar e aconchegar-se em seu leito. Tinha comida, água fresca e um afago esperando para ser dado há alguns anos.


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

hUMmanos


Humanos, circulam, prendem-se a prazeres.
Chucros, omissos, promíscuos...
Na palavra, no ser, não se escreve o descrente.

Pelo mal ou pela forma mais sublime. O anjo caído virou-se contra o pai.
O inferno a seus pés, pelo prazer de ver o fogo.
Cai, a chuva, que junto ao pranto, de raiva, sem posse, sem esmero.

Dá-se a importância ao que não se tem.
E se não se tem, quem se importa.
Era seu aquilo que sempre amou, e perdeu aquilo que nunca se teve.

Credos. Fechou os olhos para o digno, apostou no jogo em que se perderia.
Sem duvidas, sem motivos.

O prazer e a rebeldia de se manter em pleno voo noturno, se enxerga pouco e tem ideia do que acontece no simples erro.

Pontos no céu. Perde-se o grande prêmio.
Já que o céu está no alto, a terra é seu porto seguro, adiantaria olhar para cima e ver que afunda?
O dia está escuro, a noite insiste em existir para o findado e derradeiro momento.

Aterrissa, percebe, estás sozinho.
Olhou, egoísmo, fechou-se, caiu, deitou-se, prendeu-se e adormeceu tranquilo.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Delírio

Normalmente extinta, a vida em meio ao vício, um golinho no café, um trago na bituca já apagada. As chamas esmaeciam. Enquanto isso, um furacão varria os arredores da periferia, barracos, tapumes, Eternit, zinco, barragens, caixas d’agua, e o próprio morro que vinha abaixo como uma avalanche. Um novo plano de busca era traçado enquanto o soldado em busca de piedade, atirava nos ditos zumbis, filhos do crack. Todos na mesma direção, sem destino ou futuro, sem passado e nem presente. 

A cria criava-se na merda, a maioria das vezes nem mesmo chegava-se ao dito fim, a esmo. Um poder de se retirar as riquezas do solo, o cão que fuçava no lixo, viraria alvo fácil dos transeuntes que apenas observavam a imagem embaçada de um dia de sol, que castigava até mesmo os mais necessitados, para não dizer somente.

Durante a noite, o gélido prazer de passear pelas ruas escuras, iluminada ao longe pelos postes em decomposição, traria o gosto amargo na boca. Mais um gole no cafezinho e desta vez a bituca não existia mais, foste mascada.

As cinzas pelo chão do apartamento, as marcas de expressão no rosto, um tom avermelhado na pele. Escrevia algo no espelho, já machucado pelo tempo em que sobreviveu. Deitada na cama, fazendo poses, mantendo as posses, deliberando-se ao bel prazer. Satisfeita com o troco deixado pelo cliente como gorjeta. Olhava para o teto com certo desespero por não ter tido dentes para sorrir. Apenas uma calcinha fio-dental como vestimenta, cores pastéis. Acima e abaixo, ela veria apenas as cores do arco-íris surgindo no horizonte, destacando a fachada do hotel três estrelas e em suas entrelinhas.

“Meio litro de suor e oitocentOS gramas de carniça”.

Por entre feixes de luz o ar passava empoeirado, o céu em preto e branco escorria por entre as nuvens de areia. Dunas se formavam em meio ao trânsito caótico da cidade sem limites. Violência era pregada nas igrejas e sinagogas, a ferro e a fogo, abutres.


terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Gabriel

Gabriel trancou-se no banheiro, escolheu ficar ali enquanto o dia passou. Sua mãe escondida na cozinha entre os afazeres e seu pai desmanchando toda a casa, sobraria o banheiro. Com medo do que seria feito em seu quarto, Gabriel mantinha seus bichos preferidos junto de si enquanto o mundo lá fora acabava de chover. Ligou o chuveiro e tampou o ralo com uma esponja, aquela que nunca usara apesar de seu pai sempre dizer para esfregar bem os pés, aliás, ele esfregava os pés no tapete plástico antiderrapante que havia no chuveiro, esfregava tanto que machucava às vezes seu dedo mindinho, mas, a bucha ficava ali, intacta.

Uma piscina surgia no Box, parecia mais um aquário, Gabriel trancou-se então naquele cubículo de vidro cheio d’agua, seus bichos molhavam-se, os de pelúcia afundavam pelo fato de pesarem mais com a água que tomava seus corpos e os de borracha flutuavam, engraçado e pontual era que seus bichos de borracha eram apenas para o banho, alguns sujos de terra lá do quintal, outros com sérias mordidas do cachorro que participava da folia por vezes e mais vezes.

Criava uma atmosfera obscura quando viu pela primeira vez um polvo, escurecendo a visão de Gabriel, por medo. Os peixes que Gabriel nunca tinha visto antes. Bolhas de sabão, pedras, algas e tudo o que mais poderia ter no fundo do mar. A psique viajava por entre as ondas mais velozes e quando se deu conta de que estava em alto mar, Gabriel agarrou-se em sua prancha favorita e seguiu viagem junto com seu ursinho favorito. A onda cobria Gabriel, o urso, o chuveiro, a casa, o bairro, a cidade e tudo o que viria mais pela frente, somente um super-herói poderia escapar ileso daquela enrascada. Gabriel estava ainda trancado no banheiro quando em sua prancha magica levantou-se e subiu à superfície. Como num sonho, o urso acenou para o menino, que num piscar de olhos vestiu-se de mergulhador. Juntando-se as baleias que por ali passavam Gabriel olhava atento para as Raias que brilhavam ao serem tocadas pela luz do Sol.

Toc Toc, Gabrieeeel...

Enquanto abria um baú do tesouro, vestido de pirata com tapa olho e tudo mais. Gabriel enrolava-se em uma alga marina gigante, que o faria mais tarde se afogar. Salvo por seu patinho de borracha preferido (um jogo de patinhos de borracha que incluía a mamãe pato, Gabriel gostou apenas de um e os outros viraram mordedores do Valente, o cachorro).

Nos braços da sereia mais bela, caiu Gabriel. Ela tinha uma toalha aconchegante e quentinha que libertaria nosso herói das garras do Kraken, o perverso polvo gigante, munido de 8 espadas e uma boca enorme. Aquela sereia que não se sabia o nome, era bela e cantarolava uma canção bonita aos ouvidos, quase que em transe, Gabriel, entregou-se.

Mergulhou mais uma vez num céu maravilhoso.

Sabia que a luta de espadas ficaria para a próxima vez.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Oriente


Fechar os olhos.

A brisa que toca sua pele nem sempre é tão confortante quanto naquele dia, o cisma do oriente rachou de vez o mundo, Constantinopla, a então Istambul seria guardada assim como o mar Negro, ao norte da província a fortaleza era obscura e enigmática. A antiga civilização era derrubada pelo tempo. Como poderia aos olhos de Deus, uma das maiores impurezas do século.

A temática era outra, o pseudônimo alterava os graus normais do metabolismo frente ao fundo monetário internacional, hora sim, hora nunca, ora, pois, a metrópole descansava em paz, em plena lua crescente despontando a estrela, referindo-se ao Islã, improvável, sensato, com seus costumes primitivos e mal vistos no ocidente, ainda assim, era o mais correto, apesar dos pesares. Crescia a demagogia que cresce até hoje, inventava-se o que não mais existia.

No monte Olimpo Zeus observava seus descendentes que aclamavam aos céus, pedindo a Hélio uma trégua. O Sol queimava, ofuscava a visão de quem observava atentamente uma busca por paz. Do alto das torres, o sinal de alerta antimísseis, o caos implantado e as bombas exportadas.

Segundos antes do precipício, admirava a paisagem do deserto em pleno inverno, suspirou, respirou fundo. Esfregando os olhos com calma, acabara de acordar, vivenciando um crepúsculo  possivelmente pela ultima vez. O peso do mundo em suas costas fez com que a brisa não só formaria o ultimo ar de seus pulmões, como levaria consigo seu ultimo sopro.

Faltava-lhe o ar.