Pés descalços...
...não sentiam o chão.
Via pelas poças que o mesmo existia e que apenas aquilo faria
crer que não levitava. Por pouco menos as gotas de chuva que se misturavam ao
céu marrom acinzentado respingavam em seu rosto tanto quanto a neblina que
ofuscava a visão a dez metros à frente. Parecia um sonho ruim ter apenas o
vento frio por companheiro.
Um cachorro latia ao longe para o longe, para o nada. Ao
lado, portão aberto, convidativo para qualquer ato ilícito, enquanto deixava
uns três quarteirões para trás, um carro parando embaixo de uma árvore, o cão
ainda latia onde por entre eles havia ainda uma grade. Subindo a avenida
chegando ao seu ponto final, uma farmácia com um atendente solitário, tétrico,
a garoa ainda cairia lá fora o que tornava o clima mais ameno.
A lua que naquela ocasião havia deixado o ser em descaso, as
estrelas assumiam um papel tão apagado quanto a própria aura. Os gatos eram sim,
felizes. Um estava apenas acomodado no meio fio entre as casas, enquanto outro
apertava o passo pretendendo chegar mais cedo. Olhar para os lados seria
fundamental já que apesar de vazias, as ruas tinham certo tom admirável e
sangrento. Fechou seus olhos por um momento enquanto a brisa trazia um cheiro
de terra úmida, era algo a se apegar naquela altura.
Quando o mais humano medo surgiu ao ouvir os barulhos que a
cidade faz, sentiu-se sozinho, mas não confortável, sentiu-se desamparado,
triste. A noite já não lhe caía bem e certo tom mesclado ao brilho das luzes de
sua casa o traria de volta.
Logo ao lado lavavam um carrinho de lanches, plena
madrugada. A miopia embaçava uma pessoa que andava longe dali. Ruas vazias,
apenas os tons alaranjados das luzes de mercúrio já bastavam para tornar o
clima pouco desagradável. Procurando algo para aliviar certa angústia, alguma
coisa que trouxesse o sono de volta. Pisar em solo santo o fez lembrar coisas
que o confortariam.