sábado, 2 de dezembro de 2017

Meu caro Fyodor - Prelúdio

Te chamo de Fyodor, mas, meu amigo, como é mesmo aquela velha história de que nunca mudaríamos?

Como é mesmo aquela velha frase, “os dois que se tornam um”, ou, quem sabe, três?

O mundo deu as voltas que ele sempre dá. Assumimos nossos atos e lados, corremos em direção contrária por várias vezes e cá estamos, frente a frente. O espaço entre os nossos corações sempre foi mínimo, e eu não falo, obviamente, de carne, esta não é uma confissão ou palavras de amor. Está é uma carta em resposta aos teus atos, meu caro Fyodor.

Por muito tempo adquiri certas artimanhas vindas da nobre terra, o tal planeta azul que tanto falam. Cá do espaço, vejo o Sol nascer por detrás de todas as mentiras que ouvi e ainda vejo o quanto os seres humanos são tão mais humanos. Sua crença não os faz melhores, as caravelas que vocês construíram se tornaram navios de guerra (não que as caravelas não os fossem), hoje eu vejo que dá mesma forma que construíram pontes, vocês destruíram as relações e cada dia vivido, tenha em mente, é um dia a menos em seus anos. A chance de fazer com que as pessoas sejam melhores se vai por dinheiro.

Já percebeu que, meu caro Fyodor, vos escrevo não para congratula-lo, mas para fazê-lo pensar o quanto ainda resta para que no fim de tudo, antes de se tornar pó cósmico ou qualquer que seja a sua crença, você escolha para que veio e por o que vive. Não, de maneira alguma gostaria de ver-te mal, nem é esta a minha intenção. Minha intenção nesta carta é simplesmente te fazer pensar:
- O que será de mim ou de você quando o mundo acabar?

Não penso em humanidade, estou farto disso, estou farto de pensar de uma forma ampla. A mudança começa dentro de nós, nós somos os malfeitores, nós permitimos que abusem, que façam o que fazem e simplesmente pensamos, por enquanto preciso disso, mas, até quando precisaremos?
Não percebe que quanto mais colocamos tudo o que temos “por enquanto”, no final não teremos nada?

Mas, claro, fica a pergunta meu caro Fyodor:
- O que é o tudo e o que é o nada? É material? Físico mesmo, falando daquela coisa de pele? Aquele impulso animal que nos tira a racionalidade e nos transforma em lobos?

Enfim, meu caro Fyodor. Pelo o que você luta? Pelos tais comandantes comandados das esferas municipais, estaduais e federais das divisas terráqueas?

Digo, no meu ponto de vista cá da estação, inclusive pelo quarto no qual me cedeu junto a POCKOCMOC, cá do meu lado, o mundo não há divisas, é um só, como no início dos tempos. Boa parte dele é verde, mas a grande parte é azul e inexplorada, ou inexplorável.

Eu nunca vou compreender os humanos que hoje correm para observar além da Via-Láctea, mas tratam ainda os Atlantis como seres mitológicos. É inexplicável as formas como ainda dizem desbravar os mares se nunca foram além das ondas. Ainda penso nas n formas de combate a morticínios e aos fatídicos homens que se combatem por poder, será mesmo que nenhum deles compreende que as guerras apenas trarão mais guerras?

Por fim meu caro Fyodor, meu pai sonhava com o momento em que me visse chegar ao fim do programa espacial e eu voltasse para casa, eu também anseio por este momento, mas eu sei que não voltarei a tempo de ver o sorriso nos dentes dele, não estou sendo dramático ou coisa parecida, a vida passa para todos nós e ele era a única coisa que me fazia humano, era a única coisa que me faria voltar. Hoje, não há mais porquê. A tristeza tomou conta de mim por um momento, e ela me trouxe a reflexão dos motivos que nos levam a nos distanciar de nossa origem.

Desculpe se fui rude por algum momento, gostaria apenas de externar minhas sintonias, cá do lado russo da estação espacial. Sei que entenderá.

Abraços do seu amigo Faber e mande notícias de Alyosha.

“Entre reis e reinados, presidentes e mandatos. A humanidade ainda segue o fluxo padrão de sobrevivência em meio as regras enviadas pelo divino. Divindades estas criadas pela mídia e pela boa e velha fala. Não é necessário saber falar, mas entender o que os outros gostam de ouvir, entramos no desespero que assola a humanidade em busca do metal. Não sei se por idade ou se por, de fato, poder. É de fato curioso o momento em que o crescimento custa vidas e dias de vida. 
No espaço não existe deus, existe a paz.”


Faber Krystie McDonnadan


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Carta de VoM a Faber, agradecimentos a Fyodor - Parte 1

“Após pensar por um instante sobre a questão astrológica, cheguei em um ponto abstrato demais para deixa-lo em minha mente apenas. Levando em consideração que as constelações do zodíaco são conjuntos de estrelas que formam “desenhos” no céu e cada uma delas foi nomeada de acordo com a imagem que formava. Qual seria a relação que criamos entre a questão astro/física ao mencionarmos a ciência da astrologia. 

No momento em que mencionamos Vênus em Câncer, ou, quem sabe, Sol em Capricórnio, Júpiter em Virgem (só coisa boa). Sabemos que tudo é regido pelo Sol, no centro do universo (o nosso universo) e quando um planeta está entre o sol e a constelação, diz-se então que sofremos diretamente sua influência desta energia que se desprende de alguma forma ao momento em que o Sol se alinha com um planeta e então com uma constelação.

Já parou para pensar na relativização que temos ao compreender que o alinhamento é crucial, assim como o ponto de visão, é claro, que cria este segmento entre os astros já que as constelações estão paradas no mesmo ponto do céu enquanto os planetas giram em suas órbitas.

Parece óbvio porque é óbvio. Faber, eu peço, não caçoe de mim.

Mas pense:
- E se para que Vênus sofresse a influência de Câncer, o planeta Terra deveria estar em um ponto x em relação a constelação de Câncer e Vênus em um ponto y em relação a Terra?

Diz alguma coisa homem!

Abraços apertados do seu querido amigo, 
VoM”


Assim, desta forma me coloquei a pensar quando VoM em um de seus devaneios me escreveu esta carta, cá em meu quarto na estação espacial, cedido amigavelmente pelo meu incrível amigo Fyodor Pavlovich, me pus a pensar:

- Até onde a luz do Sol vai?
- Até onde o universo nos concede o infinito limite?
- Quantas mais estrelas estariam por trás das constelações que vemos hoje?
- Qual a influência das ondas gravitacionais nisso tudo?
- Até quanto mais eu poderia ir além neste estudo?
- O quão notável seria o nosso tal Fyodor em meio a tantas perguntas que me surgem na cabeça ao olhar a Terra tão de longe no meio do vazio de estrelas que vejo cá da estação?

Como se a tese na qual acreditamos até hoje de que tudo funciona como um relógio regido pelo Sol fosse besteira.

Já que vivemos na terra, não deveríamos encontrar um ponto de visão em relação a terra, de certa forma, relativizando ainda mais, nós estamos parados enquanto todo o universo gira em torno de nós (não me leve a mal), cá da estação, no meu ponto de vista, a Terra gira em torno de mim e as constelações continuam paradas. Capisci?

Sei que se criam consensos, concílios e opiniões populares, mas além do estudo, além dos 4000 anos de estudo, como se por um instante, um acaso, um leve deslize, ninguém tivesse arriscado pensar nisso... E se estivéssemos errados todo esse tempo?

“Não entreis em conflito com teus iguais (e nem desiguais), procurais a compreensão de ambos os lados sem favorecer nenhum deles e buscais estritamente o saber através da própria pesquisa. Os homens vos fazem acreditar em tudo o que lhes é comercial para que vos compreis suas ideias e ideais. Sejais únicos ao cumprir teus próprios ciclos de estudo sobre as questões que lhes assolais a mente sem nenhuma e qualquer influência, mesmo que errado estejas o caminho percorrido é o que realmente importará.”
Faber Krystie McDonnadan


sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Entre nós e as estrelas

Observava as estrelas com certo desafio nos olhos. Sentado na relva apenas por aquele instante de calmaria na cidade que nunca dorme, enquanto o cigarro ainda aceso respirava da mesma brisa gelada vinda do ártico. Águas calmas do lago refletia a luz da Lua e os sons vindos dos uivos longínquos dos coiotes que se cercavam de esperança aguardando o momento certo para avançar a caça.

Era um momento único de plena divisão entre o surreal e o que estaria de fronte aos olhos. Nada daquilo caberia em uma única fotografia. Não adiantava nem mesmo tentar. Um trago a mais e a fumaça se confundia com o vapor que saia de suas narinas. Na melhor das hipóteses aquela imagem queimaria seu cérebro como o ácido. Todas as questões mundanas vindo a tona de uma vez só, não se tinha mais certeza o que era cigarro, relva, cervo ou coiote. Arma apontada para si mesmo em afronta contra sua própria vida, dali para a frente seria diferente, sabia que por mais que apertasse o gatilho saber o futuro era ilusão, dizer que o passado não existiu, mentira. Fugir daquilo tudo era a única realidade.

As memórias ainda se misturavam enquanto fechava os olhos no silêncio, sabia ser o último, sabia que um dia a dor iria embora. Quando a luz do sol tocava sua pele, viu o sonho se tornar real em cores Tecnicolor. A dúvida ainda era a mesma:

“Já teve um sonho que parecia real? Se você não pudesse acordar deste sonho, como distinguiria o sonho da realidade?”

Continuar negando que os mistérios da vida vão além do que acreditava seria irrisório, naquele mesmo instante a milhões de anos-luz dali, em um universo paralelo, ele poderia nem mesmo existir, em outro universo paralelo, ele poderia ter puxado o gatilho, e em outro a arma nem estaria em suas mãos. Todo aquele paraíso poderia nem existir, toda aquela história seria um imenso deserto e o sonho, talvez o sonho fosse a realidade ou a realidade fosse o sonho.

No mais fiel de seus quadros, aquele com suas marcas mais profundas, o Yin-Yang cortando sua carne, a seco. A fidelidade de um quadro tal qual a do sol nascendo por entre as montanhas, sob a névoa matutina enquanto os coiotes deixavam a vida para descansar em paz. Os sons da madrugada davam lugar aos carros passando na highway, aos vagões barulhentos do metro, dos trens de superfície e das pessoas caminhando pela manhã em busca de seus afazeres. Por vezes os aviões retornavam ao seu fatídico asilo. O cigarro já apagado dava lugar ao gole de café, este seria o combustível para mais um dia. Nas células do anjo caído, na voz lírica, no comando das vozes e das armas a vida seguia na metrópole.

O espaço entre o sonho e a realidade parecia imutável, mas ao mesmo tempo, no espaço-tempo entre os astros, um trilhão de anos é um piscar de olhos astrológicos. Mais uma vez a relatividade nos embrulha em um poço de imperfeição.

Mudam-se os tempos e os que vem hoje para o mundo, ainda considerados dotados de pureza ou, diga-se de passagem, imunes a insanidade mundana.

“Seria o feto um resquício de sanidade ou fruto da loucura?”
Faber Krystie McDonnadan