Um casal de velhinhos sentados na varanda, a brisa batia leve, cada qual em sua cadeira, estavam quietos. Ele com um leve sintoma de Parkinson portanto era ela quem dichavava e bolava o baseado.
Cigarro pronto, Tânia olhou para David com um semblante alegre, ela queria por fogo logo naquilo e David sempre calmo, pediu para que ela esperasse um pouco, ele ia ao banheiro.
Passados uns 20 minutos, David voltou e Tânia estava ansiosa questionando:
- Por que demorou tanto?
- Acha que é fácil limpar a bunda com as mãos tremendo?
- Grosso, era só ter dado um peguinha, estaria tranquilo.
- Eu sei, mas você fumaria tudo antes de eu voltar.
- Eu seria incapaz disso.
- Sei, cachorrona. Acende ai essa birosca.
- Falou a minha língua, seu bocó.
Tânia acendeu, como de costume, quem bola sempre acende.
Deu 1, deu 2… olhou para David, que já aguardava sua vez. Esticou a mão com o baseado, tentando passar, mas as mãos tremulas dele não permitiam que ele de fato agarrasse. Ela tragou mais uma vez, dizendo que ia apagar enquanto ele apenas ria da situação.
Ela levantou, chegou bem perto e soprou a fumaça na cara dele. Isso reduziu um pouco a tremedeira.
- Okay, já se divertiu?
- Já sim. Vai querer ainda?
- Claro. Hehe
- Você é o velho mais lindo que eu já vi!
- Para com isso, vou começar a tremer de novo. Vem cá, senta aqui.
Ela sentava devagarzinho no colo de David. Enquanto ele tragava a primeira vez e sentia todo seu corpo relaxar. A brisa batia um pouco mais forte e os dois começaram a rir.
- Do que você tá rindo, bocó.
- Eu não sei.
- Olha, parou de tremer.
- Sim. Vem cá, me abraça.
- Eu não consigo parar de rir. Que chá é esse?
- Peguei com o Valdir.
- Aquele do buteco?
- Sim.
- Vou dar um beijo nele!
- Eu também!
- To com fome…
- Deixa eu levanter, vou fazer algo pra gente.
- Tá, vou acabar essa pontinha.
- Que dúvida, sua saco sem fundo.
Tânia se recostou na poltrona da varanda e pegou no sono, passados mais de 40 minutos, abriu os olhos procurando por David, que desde então não aparecera. Levantou, indo até a cozinha, encontrando-o no caminho entre a sala e a cozinha, parado e olhando para o nada.
- O que você tá fazendo aí? – Perplexa –
- Eu não sei, cheguei aqui e esqueci o que vim fazer.
- Você veio fazer o jantar! Seu bocó! – Gargalhando –
- Ah é?
- É! – beijando David com carinho –
- Bom, podemos pedir uma pizza então.
- Boa ideia.