Ao passar por aquela ponte, parou no ponto mais alto e, em
um lapso pôde sentir o vento em seu rosto e todo o entorno das pessoas que se
compadeciam com mais um corpo que se chocava ao solo de forma brusca. Tudo se reconstruía
em sua mente e o céu visto era apenas mais um céu coberto de incertezas e
tristezas, aqui jaz mais uma mente insana que não suportava o mundo. Para
alguns era covarde, para outros era realista, para estes era um sinal de que
aos poucos a sociedade matava seus ídolos e idolatrava outros os quais não
tinham nada a doar. De certa forma o mundo era aquele mesmo e tudo o que ele
poderia fazer era se juntar ao limbo ou arriscar um salto ao infinito
desconhecido.
Abrir os olhos com um dos pés apoiado na grade pronto para
subir mais um degrau fritou os miolos do sujeito que só estava ali a passeio. As
pessoas em volta só observavam sem dizer uma palavra. O clima agradável da
noite densa apenas ressaltava a luz dos carros que cruzavam o mesmo caminho.
Dali em diante, seguiu seus passos até um bar, onde pediu uma dose de conhaque
sem gelo e uns petiscos como tira-gosto. Encontrou alguns amigos, conversou
sobre todas as coisas possíveis e ali se sentiu cada vez mais sozinho conforme
os amigos iam embora.
Sentado no banco da praça fumando um cigarro de um maço que
encontrou ali naquele mesmo banco. Arriscava pensar novamente naquele momento
em que observou seu corpo cair, se quebrar como uma onda no casco das
embarcações que se embreavam mar adentro. Se sentia num cais, como um navio
ancorado pronto para navegar, buscando o mar aberto, pedindo por sua libertação,
mas com as pernas imóveis. Seus olhos se moviam e seu corpo banhado em seu
próprio sangue insistia em se manter vivo.
Abrindo os olhos novamente enquanto soltava a fumaça pelas
narinas, descruzando as pernas e observando ali perto que havia alguém
desconhecido. Sem se preocupar com nada, finalizou jogando a bituca logo a sua
frente e tomando seus passos pela cidade, caminhava sem rumo, sem ideias ou um
ponto final. No termômetro digital visto ao longe marcava 10 graus, estava frio,
o conhaque já havia sido consumido e o jeito era acender outro cigarro para se
manter aquecido, as luzes dos carros iam ficando cada vez mais escassas devido
ao horário, as ruas se iluminavam pelos postes que não exatamente se mantinham
acesos, uns piscavam, outros apagavam por longos minutos, o vento batia nas
vitrines das lojas e faziam um barulho característico ao soprar nas bocas de
lobo.
A cada passo se via mais perto do destino, a cada passo se
via mais longe daqueles pensamentos. Entrou em um bar que ainda estava aberto,
pediu uma dose do mesmo conhaque sem gelo, sentou-se a uma mesa vaga dentre
tantas as outras que estavam também vagas. A musica ambiente mesclava com o
barulho das mesas agitadas pela conversa dos frequentadores, era um lounge
americano que fazia jus ao bar, tinha cara de ser aqueles PUBs gringos cheios
de frescura.
Acordava com alguém cutucando suas costas. Era o garçom,
anunciando que a casa estava fechando e que ele deveria acertar a conta e sair.
Levantou assustado, procurando sua carteira, retirando uma nota, e colocando em
cima da mesa, colocou um cigarro na boca e no primeiro passo para fora do bar
notou que estava quase amanhecendo, o Sol não batia em lugar nenhum mas já notava
o céu com as cores se modificando, seguiu caminhando até o prédio onde morava no 8º
andar, entrou em casa, fez carinho em seu cachorro, enquanto tirava os sapatos,
abriu a janela da sala e sentiu a brisa fria da manhã que arrebentava sobre seu
rosto como o mesmo mar do cais que arrebentava contra o casco das embarcações.
A vida voltava ao normal, as ruas se enchiam, as mesmas
buzinas de todos os dias preenchiam o Lounge e tornava a vista mais turva do que
de costume, os aviões cruzando os céus, o barulho dos trens de superfície e
todo o entorno da vida na metrópole. Sentando no sofá enquanto acendia mais um
cigarro arriscou o salto, em sua mente e mais uma vez acordou com o rosto ensanguentado. Daquele dia em diante, previu seu fim várias e várias vezes
e em uma explicação complicada ele dizia que as ramificações se findavam e ele
mesmo era dono do próprio destino.