sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A Pólis e Apolo - Um manifesto

Somos fortes, somos individuais e prezamos apenas pela nossa sobrevivência, sobrevivência essa de um conceito falso, já que a maior parte de nós ainda vive com os pais e não tem a necessidade de pagar aluguel e contas básicas como alimentação, transporte e vestimentas. Alguns de nós tem seus empregos, são até bem-sucedidos, mas jamais escapam da sombra dos pais, estes que com o auge dos 40, 50 ou 60 anos ainda provém o sustento de uma família. O dinheiro falta, não temos controle financeiro, não precisamos dele, somos nós que mandamos no nosso dinheiro e compramos o que queremos, gastamos tudo com o que nos convém. Sejam bebidas alcoólicas, roupas de grife, sapatos, tabaco, drogas ilícitas e afins. Muitos de nós possuem pequenos fetiches por coisas ditas de nerd, ou então o termo nerd foi adquirido por alguns de nós que se autodenominam nerds, que fazem parte da cultura nerd, da cultura gamer, da cultura de algo tecnológico. Amamos livros que talvez nunca leiamos, ou somos escritores de um mundo que não consome a nossa escrita, somos seres viventes de mundos duais, nossos álter-egos sobrevivem virtualmente em lugares onde postamos fotos com filtros, apreciamos um mundo não palpável que serve de alicerce à depressão de uma geração toda. A confusão mental que se avizinha a passos largos se transforma logo em músicas de letras vazias, riffs rápidos, flows contínuos e strings de curto alcance. Somos aqueles que nunca foram a uma guerra, que nunca ouviram um tiro de canhão disparado por um tanque ou ainda mais, nunca vimos o próprio tanque explodindo após uma descarga de bombas vindas do céu através de um avião e não estamos nem um pouco preocupados com isso. Queremos a paz. Queremos que o mundo seja tão belo quando as fotos que vemos no Pinterest. A guerra é interna, lutamos contra nós mesmos, dentro de nossas cabeças. Sentimentalmente somos carentes de afeto ou simplesmente ignoramos este fato nos escondendo nas sombras de um sorriso semicerrado pela bebedeira ou efeito de algo. Passamos a semana esperando pela sexta-feira, ansiamos pelo sábado e morremos novamente no domingo. Somos a escória, somos os ladrões, somos os reclusos, somos os culpados pela sociedade marginal, pois, por incrível que pareça, nós mesmos éramos os marginais e hoje somos os que consomem o mundo, somos a mão de obra e amanhã, se ele chegar, seremos os detentores do dinheiro, teremos nossas contas, mas não teremos nossas casas. No nosso mundo não há divisas, não há fronteiras, seja ele virtual ou real, temos uma capacidade de mutação e adaptação tão grande, que isso nos liberta das algemas do pertencimento mútuo da terra. Somos o próprio vento, que sopra pelo vão e traz o frescor da manhã de mais um dia. Este que sempre será a dúvida, o amanhã virá? Isso significa que cada dia é único e que todos os dias podem ser os últimos mas, isso não significa que não devemos acreditar em um mundo melhor. Somos os seres decadentes do século presente, vivemos em busca de algo que não sabemos o que é, de onde vem e para onde vai. Temos ciência apenas do quanto custa e alguns nem isso, estes nasceram em berço de ouro e não precisarão se preocupar com nada a vida toda. Haverá talvez a necessidade de adquirir uma boa educação para que se perpetue a sua própria espécie, estes são os ditos comuns que em geral repetem sempre o mesmo ciclo - nascimento, aprendizado, trabalho, procriação e morte. - Dentro destas fases existem os sentimentos afetuosos que o mantem nesta linha rumo ao infinito ciclo de perpetuação da espécie dentre o sistema no qual somos apresentados. É mister de como o planeta sustentará toda uma geração de pessoas que no final das contas não conseguirão sustentar o próprio sistema. Este entrará em colapso e cairá em desuso como uma bituca de cigarro ou como uma resistência de um dispositivo de vapor. A tecnologia vencerá, o ser humano perecerá em doses homeopáticas restando accounts, characters, e-mails, IDs e skins. Somos os virtuais, os eternos, os binários, não-binários, os sem gênero e os generais. A nossa guerra, mais uma vez, é contra nós mesmos. O futuro não é o agora e ele talvez nem exista neste lapso temporal causado pela própria inercia constante em nossos corações.