terça-feira, 10 de março de 2020

Two lost souls swimming in a fish bowl


Foi na rodoviária daqui da cidade que a gente se abraçou pela última vez e até hoje eu guardo sua mensagem que mandou no dia 21 de setembro do ano passado, um Sábado e você estava indo almoçar, finalizou o contato pedindo pra eu mandar notícias enquanto eu iniciava uma apresentação de teatro infantil, realizando a sonoplastia e a iluminação do espetáculo. Foi na mesma semana que eu soube do seu acidente e que de alguma forma nos deixou.

Hoje eu penso em você como alguém que fez o melhor que pode por todos nós e que partiu fazendo o que mais gostava. Para alguns, inclusive para mim, você sumiu no éter, é como se você ainda estivesse nesta viagem na qual nos despedimos na porta do ônibus que se destinava a São Paulo. Engraçado que quando eu soube que você tinha caído de bicicleta, eu ri muito pois, tudo entre nós era motivo para gracinha, para gargalhadas, qualquer que fosse o momento e claro que eu não imaginava o quão sério havia sido, até que o tempo passou e tudo foi ficando menos risonho, as notícias não eram das melhores e... enfim, você se foi. Se foi e deixou a gente aqui meio com um sorriso amarelo, meio controlando as lágrimas, meio sem entender o que aconteceu. A Nina foi logo depois, acho que você deve saber, ou não, não sei.

Enquanto escrevo eu tento me livrar de crenças e focar apenas no que eu sinto, já que o sentir é algo mais puro do que achar coisas e pensar em formas de acalantar os corações. Você se foi, é fato e é com isso que tenho que lidar, daquele dia em diante, e escrevo este texto para colocar para fora o que estava engasgado desde então. Sei que você não vai ler, sei que de certa forma alguns vão me dizer que você lerá ou leu, este não é o propósito, não busco provas, busco apenas tirar de mim esse mal estar que você causou em todos nós com sua partida.

O seu legado foi e será respeitado e penso que é o que quero ter para mim, é o reconhecimento que você teve e a gente sabe que você era um artista e artistas sempre serão massacrados a vida toda e reconhecidos após a morte.


Hoje você faria 62 anos, meio século e 12 anos, ou, 50 mais um bom whisky.


“Morro acima, entendemos que chuva é mais forte do que imaginamos e que a enxurrada é apenas a consequência. No fim, todos nós ficaremos bem. Em meio a solidão que o mundo nos traz, em meio ao céu cinza de uma tarde chuvosa, em meio as notas solitárias de um compositor decadente, entre as palavras de um ébrio. Em meio ao marasmo da casa vazia.” - Veleiro por Danilo Baldassari



 

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