As vezes é como se o peso do mundo estivesse em minhas costas, como se tudo o que carrego em mim fizesse sentido apenas em um momento final. As vezes me pego de surpresa pensando em por fim em tudo isso e as coisas se resolvem de forma clara. Eu e o velho espelho d'água nos encontramos, o gosto amargo dura mais do que deveria e tudo aquilo ainda sem sentido persevera em um momento audaz, vicioso, incompleto e terminal. É como se o peso do mundo estivesse em apenas um grão, em uma sentelha que persiste em alimentar o fogo.
É uma esperança morta. Uma esperança triste, a tristeza da espera, o caos de um lugar que nunca pertenci. O criador versus a criatura. A máquina que não para, trabalha e sem vida continua a trabalhar. É o hostil, o horário, a sirene de um alarme que toca a noite inteira e te faz acordar no meio da noite.
Um momento de paz que só existe por alguns segundos antes da explosão nuclear. É o sem-tempo, sem-teto, sem-música, semi-riso frouxo incômodo durante a prece e presença imortal. É o trauma da cabeça contra o chão, do ônibus que nunca chega, do metrô vazio, das luzes que ao longe vem chegando e se vão. O barulho industrial, a canção que já não existe, a poesia que morre junto aos vitrais de uma catedral após o atentado.
Sempre existiu uma carne insensível, putrefada entre os vermes e abutres na estrada. Os carros passam e se vão, o Sol já deu lugar a noite e o dia se foi para nunca mais voltar. O coringa se desfaz aos poucos, se torna um alfinete no meio do palheiro e dá lugar a dor e ao descaso.
Daqui da ISS, vejo o mundo escapando por entre os dedos de um pianista em uma cancioneta errônea, inominada e decadente. No sonho a escuridão das estrelas da lugar ao sentimento de queda e ao incômodo de bater com o corpo no colchão de terra batida, lama e poeira.
De volta ao espelho d'água, este agora turvo, como um castelo de cartas que, em câmera lenta, se dissipa junto ao realejo e suas notas dissonantes por extinto, extintas.
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