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Bariloche (ou manual de procedimentos técnicos de segurança administrativa aos finais de semana pares, PARES, não Paris)

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Hoje tive uma lembrança. Enquanto escarafunchava memórias ainda que sólidas e ações que ainda mantinham vivas as perspectivas de um futuro daquele passado que se fazia cada vez mais claro, lembrei que estava ali, inerte, estagnada, parada, uma imagem que meu cérebro ainda se queima todo para entender, é importante dizer que não me lembro das suas feições e emoções daquele momento. A vida era pacata, o momento era restrito, no meio da selva de sentimentos e promessas, “vi a cidade fervendo na emulsão da retina. Crepitar de vida ardendo, mariposa e lamparina. A cidade ensurdecia, rugia como um incêndio, era veneno e vacina”. Observava tudo meio pixelado, meio esbranquiçado, lembro-me do ambiente claro do sofá verde/azul tiffany, do piso de madeira e das paredes brancas, lembro-me do quarto sempre escuro e das aranhas que moravam nas periferias do teto. Lembro das plantas e dos arbustos e até dos barulhos noturnos que os vizinhos faziam, as garrafas de whisky no bar, a TV enorme, o cachor...

“Não responda esta mensagem”

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Doutro lado tais quais os Mouros observavam o céu de uma inquisição maldita, algo dizia que as vias intempéries de algum lugar surgiam no horizonte com muita força e que igualmente se esvairiam. A diferença era o contraste, de dentro da carne, no cerne, no centro ao avesso, pelos lados. O modo “Практикуйте невозможное” (Praktikuyte nevozmozhnoye – pratique o impossível) estaria ativo a muito tempo atrás e ele não havia ainda sido desligado por motivações governamentais. A questão agora era o termo “андроид” (android) que a muito não se via nas páginas dos jornais, mesmo que em termos estes já caíram em desuso, mas boa parte das comunicações ainda dependem do bom e velho papel. A telepatia se inundava nas águas azuis e claras das Maldivas. Os datacenters em torno das casas de palha, resfriados pelo complexo marinho dessalinizado. A vida já não mais perseverava como antes, apenas escapava, como sangue em um corte profundo. Os sonhos, entretanto, estes gozavam em um período tênue que se c...

Orgânico

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O mundo está um caos. Já diziam isso nos anos 90. Só não imaginavam que, 30 anos depois, esse caos seria descoberto como uma forma silenciosa de organizar a sociedade “por baixo dos panos”. O enriquecimento de urânio, o enriquecimento no home office… toda a tecnologia de uma lava e seca que não seca porra nenhuma vem acompanhada de sondas como as Voyager — que, mesmo lançadas na década de 70 (em 1977, para ser exato), ainda mantêm formas de contato com a NASA na Terra. Não é intrigante como máquinas feitas para secar roupas ainda não fazem isso com destreza? Pois bem, cá deste lado da ISS, no ponto escuro onde todos dizem ser o lado da Pockocmoc (Roscosmos), consigo visualizar o globo por um ângulo diferente. Dizem que ele está de ponta-cabeça, mas isso não faz o menor sentido, já que o planeta é um globo. Hoje eu vi um fantasma. Ele parece ser tímido, desaparecendo sempre que olho de volta. Um vulto pequeno, uma sombra — às vezes visível pela minha visão periférica enquanto escrevo c...

Crescei e multiplicai-vos

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Adentrando a simulação, eram inclusas complexidades durante os planos base. No começo tudo se iniciava com células simples que se dividiam e multiplicavam perante sua adaptação ao meio em que foram inseridas. Nenhuma evolução, eles diziam, ocorrerá sem dor. Assim se fez, para multiplicar era necessário se dividir, diminuir, cortar, dilacerar, nada se criava do nada, tudo era inserido por algum motivo, ou por algum desejo, ou, além disso, por algum castigo, mas, como castigar algo que não possui formas de sentir que está de fato sendo castigado? Para que uma ação faça sentido, ela deve ser validada pelo seu receptor, a não ser que o ator esteja brincando sozinho com suas ideias mirabolantes em um monologo estranho em um palco sem plateia, sem luz, sem som e sem texto, o que anularia de fato a simulação. A questão é que de unicelular, se tornaram multicelulares e daí em diante foram inseridos tantos quesitos parâmetros como número de patas, revestimento, tipo de alimentação, tipo de resp...

Tous les Jours - 05

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 O Juca era verdadeiramente um cara bem viajado, tão viajado que em uma dessas conversas de balcão deixou escapar uma de suas viagens pela Ásia, logo no início, quando decidiu viajar por conta de um intercâmbio para a China. Fez faculdade e etc, o cara não era fraco não. Ele contava: - Por vários dias passei sozinho andando por aí, a capital chinesa, Pequim é pra lá de variada e tem muita gente andando pra lá e pra cá, o modo asiático de vida é meio controverso, eles fazem praticamente as mesmas coisas que os americanos e se dizem comunistas. O Léo gostava dessas conversas, viagens e etc. Ele só não se abria muito quando a conversa era sobre mulher, o moleque comia quieto, bem quieto. Enfim, questionava: - Mas lá era muito frio? Juca respondia: - Acho apenas que o inverno é um pouco menos rigoroso que em algumas cidades que o inverno é mais forte, como Vancouver ou Cleveland, mas, claro que quem não gosta de uma friaca, que procure uma cidade mais ao sul, o litoral é feio...

Um manifesto

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pelas almas que passam a vida inteira entregues ao acaso de se perder em meio ao mundo. Deleitem-se ao menos do prazer de carregar consigo mesmos seus medos, angústias e atrevimentos. Levem suas lições e assinem suas próprias sentenças. O mundo é hostil, é inóspito, o oxigênio que nos dá a vida é o mesmo que aos poucos a tira. A natureza não é amiga, somos parte dela e de sua cadeia alimentar. As pessoas são sacanas, são safadas, é de natureza do ser humano levar vantagem em tudo e são pouquíssimos os casos dos que se eximem desta culpa. A maior parte destes vive sob as sombras do próprio egoísmo e do mal que faz pensando apenas na própria sobrevivência. A todo momento extraindo tudo o que a vida pode fornecer e quanto mais fácil, melhor. A noite é dos coiotes e só sobrevive quem de fato se encarrega de fazer parte da matilha ou se arma contra estes que procuram a carniça. Ainda que na matilha, sabemos que a moeda de troca nunca será a lealdade. No mundo de hoje, depender apenas ...

O trago

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 Ao mesmo tempo A brasa sustenta Regida pelo vento Naquele que se ausenta   O cais de américa se finda A fragata se adentra Um oceano se centra Num destino que em sua vinda   Trás-os-Montes da Lusitânia Agrava os perigos dos mouros Em harmonia Aos tolos   Pobres dos que carregam Um destino incerto D’onde se entregam No exceto    Inocentes morrem O cigarro se apaga O frio se torna ad valorem Nos pulmões de quem traga   Para tal derrota É preciso astúcia Ao som da rôta Ao passo da renuncia   “As gaivotas pairam no céu tocando o oceano em seu desígnio de perpetuação. O Sol se põe ao longe enquanto as embarcações parecem sumir no horizonte. Estou num cais, como quem parte. Olhando o mar, como quem fica.” Vom Krystie McDonnadan